Ontem, ao abrir a revista Sábado, fiquei estupefacto. É que, precisamente no momento em que estava a abrir a revista um corcunda dirigiu-se a mim e, com a maior das educações, diz-me:
- Meu caro amigo, pediram-me para lhe informar que, ao contrário daquilo que julgava, as idiossincrasias características de cada um de nós não são mais do que uma maneira paradoxal de, através da diferença, nos tornarmos ainda mais semelhantes.
- Pois claro, meu cavalheiro. - acedi eu antes de lhe dar um valente pontapé naquela zona que está entre a coluna vertebral e a omoplata direita que, diga-se de passagem, é extremamente difícil de identificar num marreco. É assim que eu costumo tratar os deficientes físicos que me abordam na rua com comentários sem sentido. Algo normal no meu dia-a-dia mas que não deixa de me causar uma certa estupefacção. Por mais que tente não me consigo habituar.
Continuei a actividade que estava a desempenhar no momento em que fui abordado pelo corcunda e acabei de abrir a revista Sábado. E li uma frase ainda mais imbecil do que aquela que havia sido proferida pelo já referido transeunte com um problemazito nas costas. A frase era de Margarida Rebelo Pinto o que, só por si, nos permite antever algo de realmente estúpido. No entanto não poderia deixar de partilhar convosco o nobre pensamento desta ilustre criadora de calços para móveis.
Vocês podem dizer que eu estou a ser demasiado severo com a senhora, que não é assim que se tratam as pessoas especiais e que, apesar de tudo ela tem contribuído muito para a felicidade de muita gente, nomeadamente de pessoas cujo mobiliário necessite de calços. Eu concordo e, em situações normais, limitar-me-ia a ir visitá-la ao jardim zoológico, como faço todos os anos no 3.º domingo de Fevereiro. No entanto, uma pessoa que me faz uma declaração de ódio do calibre que ela me fez só merece ser tratada assim. Acabaram-se os amendoins, Margarida!
Ela disse, então, o seguinte:
"Sou snobe e elitista. É endémico, instintivo e mais forte do que eu. Detesto aquelas pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". Sou snobe, não queque. Também não sou dondoca. Escrevo todos os dias das 8h às 12h"
Não percebi exactamente o que ela quis dizer com isto e não faço a mínima ideia do que é "dondoca" nem o que é que isso tem a ver com o facto de ela ter um extenuante dia de trabalho de 4 horas. Aquilo que eu retirei desta brilhante citação é que ela detesta pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". E aí, Margarida, pisaste o risco. Lamento dizer-te mas meteste-te com as pessoas erradas. Somos muitos, os que temos esse incómodo e subversivo hábito de usar a palavra "vermelho" e a expressão "bom apetite" e sei que falo por todos quando digo: "estás bem tramada!". Já sabia que incomodávamos muita gente com esta atitude mas não merecíamos esta declaração de guerra. Principalmente da pessoa que inventou esse "Ser poeta é ser mais alto" da literatura para tias: a expressão "cabelinho à foda-se" (pior do que uma pessoa que tenha cabelinho à foda-se, só mesmo a expressão "cabelinho à foda-se").
Quando alguém me pergunta, para testar a minha cultura benfiquista, qual é a cor do Benfica eu respondo com orgulho e convicção: "Vermelho!". Normalmente, a única reacção que obtenho quando digo isto é um "Muito bem, acertaste" ou, no programa de televisão certo, 10.000 €. Só que se tivesse esta ousadia à frente da Margarida Rebelo Pinto era muito provável que levasse com um salto agulha no topo da cabeça e um balázio no meio dos olhos.
Apesar de não usar muito a expressão "Bom apetite!", já que habitualmente desejo que as pessoas tenham uma crise de refluxo gástrico depois das refeições, estou solidário com esta malta. Já me disseram muitas vezes "bom apetite", nomeadamente em restaurantes e, com excepção daquele indivíduo que me desejou bom apetite com cara de quem parecia que me estava a desejar uma bela diarreia, nunca reagi mal. Antes pelo contrário... No entanto, que nenhum destes pobres seres se atreva sequer a lançar semelhante impropério à Margarida Rebelo Pinto... Nem quero imaginar a cena... Saltos agulha a perfurar olhos e foie gras no ar... E isto é só um preliminar...
Margarida, podes não concordar, mas também somos seres humanos. Não, nem todos temos vidas tão interessantes como as personagens que retratas nos teus livros. Eu, por exemplo, por mais que tente, e Deus sabe que tenho tentado, nunca hei-de ser uma divorciada. Não, nem todos passamos nas nossas vidas por episódios tão espectaculares que mereçam ser plagiados de uns livros para os outros. Mas, unidos, lutaremos contra esse flagelo que tu personificas. Por mais que nos tentem impedir diremos sempre "vermelho", até ficares "vermelha de raiva". Desejaremos sempre "bom apetite" nem que, para isso, tenhamos que escrever um livro intitulado "bom apetite", que, ainda assim, será um título bem melhor do que "Sei lá" ou "Português Suave" (porque não SG Ventil, Margarida? O catarro é o mesmo...). É óbvio que não provocará situações hilárias como aquelas que pretendeste egendrar quando chamaste ao teu livro "Sei lá". Esta situação...
- Como é que se chama o teu livro, Zé?
- Ensaio Sobre a Cegueira.
...nunca será tão hilariante como esta situação:
- Como é que se chama o teu livro, Margarida?
- Sei lá.
- A sério, como é que se chama o teu livro?
- Sei lá.
- Lá estás tu com as tuas coisas. Como se não bastasse passares o dia a babar-te à janela e a insultar os transeuntes... Vai mas é trabalhar!
Um tanto ou quanto infantil mas hilariante...
Pois, Margarida, cuidado com as guerras que crias... Nem imaginas aquilo que uma pessoa que diz "vermelho" é capaz de fazer...
Umas horas mais tarde olhei para a capa da Visão e percebi a frase da Margarida Rebelo Pinto. O tema da reportagem era "Sobreviver a um AVC". E quem estava na capa? A pobre Margarida, que teve um AVC aos 41 anos... Deve ter deixado sequelas...
P. S. Agora a sério, eu nunca li a Paula Bobone e não percebo mesmo qual é o mal de dizer "vermelho" ou "bom apetite"... Serão o "caralho" ou o "foda-se" da nova geração? Alguém me explica?
- Meu caro amigo, pediram-me para lhe informar que, ao contrário daquilo que julgava, as idiossincrasias características de cada um de nós não são mais do que uma maneira paradoxal de, através da diferença, nos tornarmos ainda mais semelhantes.
- Pois claro, meu cavalheiro. - acedi eu antes de lhe dar um valente pontapé naquela zona que está entre a coluna vertebral e a omoplata direita que, diga-se de passagem, é extremamente difícil de identificar num marreco. É assim que eu costumo tratar os deficientes físicos que me abordam na rua com comentários sem sentido. Algo normal no meu dia-a-dia mas que não deixa de me causar uma certa estupefacção. Por mais que tente não me consigo habituar.
Continuei a actividade que estava a desempenhar no momento em que fui abordado pelo corcunda e acabei de abrir a revista Sábado. E li uma frase ainda mais imbecil do que aquela que havia sido proferida pelo já referido transeunte com um problemazito nas costas. A frase era de Margarida Rebelo Pinto o que, só por si, nos permite antever algo de realmente estúpido. No entanto não poderia deixar de partilhar convosco o nobre pensamento desta ilustre criadora de calços para móveis.
Vocês podem dizer que eu estou a ser demasiado severo com a senhora, que não é assim que se tratam as pessoas especiais e que, apesar de tudo ela tem contribuído muito para a felicidade de muita gente, nomeadamente de pessoas cujo mobiliário necessite de calços. Eu concordo e, em situações normais, limitar-me-ia a ir visitá-la ao jardim zoológico, como faço todos os anos no 3.º domingo de Fevereiro. No entanto, uma pessoa que me faz uma declaração de ódio do calibre que ela me fez só merece ser tratada assim. Acabaram-se os amendoins, Margarida!
Ela disse, então, o seguinte:
"Sou snobe e elitista. É endémico, instintivo e mais forte do que eu. Detesto aquelas pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". Sou snobe, não queque. Também não sou dondoca. Escrevo todos os dias das 8h às 12h"
Não percebi exactamente o que ela quis dizer com isto e não faço a mínima ideia do que é "dondoca" nem o que é que isso tem a ver com o facto de ela ter um extenuante dia de trabalho de 4 horas. Aquilo que eu retirei desta brilhante citação é que ela detesta pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". E aí, Margarida, pisaste o risco. Lamento dizer-te mas meteste-te com as pessoas erradas. Somos muitos, os que temos esse incómodo e subversivo hábito de usar a palavra "vermelho" e a expressão "bom apetite" e sei que falo por todos quando digo: "estás bem tramada!". Já sabia que incomodávamos muita gente com esta atitude mas não merecíamos esta declaração de guerra. Principalmente da pessoa que inventou esse "Ser poeta é ser mais alto" da literatura para tias: a expressão "cabelinho à foda-se" (pior do que uma pessoa que tenha cabelinho à foda-se, só mesmo a expressão "cabelinho à foda-se").
Quando alguém me pergunta, para testar a minha cultura benfiquista, qual é a cor do Benfica eu respondo com orgulho e convicção: "Vermelho!". Normalmente, a única reacção que obtenho quando digo isto é um "Muito bem, acertaste" ou, no programa de televisão certo, 10.000 €. Só que se tivesse esta ousadia à frente da Margarida Rebelo Pinto era muito provável que levasse com um salto agulha no topo da cabeça e um balázio no meio dos olhos.
Apesar de não usar muito a expressão "Bom apetite!", já que habitualmente desejo que as pessoas tenham uma crise de refluxo gástrico depois das refeições, estou solidário com esta malta. Já me disseram muitas vezes "bom apetite", nomeadamente em restaurantes e, com excepção daquele indivíduo que me desejou bom apetite com cara de quem parecia que me estava a desejar uma bela diarreia, nunca reagi mal. Antes pelo contrário... No entanto, que nenhum destes pobres seres se atreva sequer a lançar semelhante impropério à Margarida Rebelo Pinto... Nem quero imaginar a cena... Saltos agulha a perfurar olhos e foie gras no ar... E isto é só um preliminar...
Margarida, podes não concordar, mas também somos seres humanos. Não, nem todos temos vidas tão interessantes como as personagens que retratas nos teus livros. Eu, por exemplo, por mais que tente, e Deus sabe que tenho tentado, nunca hei-de ser uma divorciada. Não, nem todos passamos nas nossas vidas por episódios tão espectaculares que mereçam ser plagiados de uns livros para os outros. Mas, unidos, lutaremos contra esse flagelo que tu personificas. Por mais que nos tentem impedir diremos sempre "vermelho", até ficares "vermelha de raiva". Desejaremos sempre "bom apetite" nem que, para isso, tenhamos que escrever um livro intitulado "bom apetite", que, ainda assim, será um título bem melhor do que "Sei lá" ou "Português Suave" (porque não SG Ventil, Margarida? O catarro é o mesmo...). É óbvio que não provocará situações hilárias como aquelas que pretendeste egendrar quando chamaste ao teu livro "Sei lá". Esta situação...
- Como é que se chama o teu livro, Zé?
- Ensaio Sobre a Cegueira.
...nunca será tão hilariante como esta situação:
- Como é que se chama o teu livro, Margarida?
- Sei lá.
- A sério, como é que se chama o teu livro?
- Sei lá.
- Lá estás tu com as tuas coisas. Como se não bastasse passares o dia a babar-te à janela e a insultar os transeuntes... Vai mas é trabalhar!
Um tanto ou quanto infantil mas hilariante...
Pois, Margarida, cuidado com as guerras que crias... Nem imaginas aquilo que uma pessoa que diz "vermelho" é capaz de fazer...
Umas horas mais tarde olhei para a capa da Visão e percebi a frase da Margarida Rebelo Pinto. O tema da reportagem era "Sobreviver a um AVC". E quem estava na capa? A pobre Margarida, que teve um AVC aos 41 anos... Deve ter deixado sequelas...
P. S. Agora a sério, eu nunca li a Paula Bobone e não percebo mesmo qual é o mal de dizer "vermelho" ou "bom apetite"... Serão o "caralho" ou o "foda-se" da nova geração? Alguém me explica?