sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Aqui vai disto:

Ponto 1

Basta! Já esperei tempo demais. Não sou muito de entrar em euforias mas confesso que esperava ter acordado num novo Mundo no dia 5 de Novembro.

Esperava, no dia 5 de Novembro, acordar, sair da cama, abrir a janela, ser bafejado por um sol radiante, enquanto observava uma manada de cavalos selvagens a correr por um prado verdejante com um majestoso arco-íris como pano de fundo. Anjos tocavam harpa, anunciando-me que o Mundo tinha acabado de chegar a uma nova era. Em vez de cavalos vi carros a buzinar. Em vez de um prado verdejante vi o asfalto cinzento e os passeios repletos de cocó de cão do costume. Em vez de um arco-íris um outdoor gigante da Popota. Em vez de bafejado por um sol radiante, fui insultado por um grupo de miúdos a caminho da escola que estranharam o pranto de quem viu o Mundo cair a seus pés (sou capaz de mandar berros muito estridentes quando o Mundo cai a meus pés). Foi isto que vi da minha janela no dia 5 de Novembro...

Por momentos pensei: "Não estarei eu a pedir demais? Ainda não houve tempo. Talvez amanhã consigas ver os cavalos da tua janela. Talvez amanhã possas banhar-te nas águas límpidas do riacho que passará em frente da tua casa, exactamente no mesmo sítio onde hoje está aquele descampado com armazéns abandonados para onde os drogados vão e que a câmara nunca mais vem demolir. Dá um tempinho. Amanhã verás a mudança". Fui paciente e esperei. No dia seguinte a mesma coisa. Nem saí de casa. A seguir, o mesmo. Nada de cavalos, nada de prados verdejantes... Jurei que o meu próximo banho seria naquele riacho. Mas nada de riacho, nada de banho.

Mas decidi esperar pacientemente. Afinal foi-me prometida mudança e eu costumo acreditar nas promessas que me fazem. Mas hoje, finalmente explodi. E num acto de revolta resolvi... bem... vim escrever para o blog (não sou muito de actos extremos. Sonho um dia ter a coragem de, em actos de revolta ligar para o fórum da TSF).

Durante meses, um senhor chamado Barack Hussein Obama andou a prometer-nos mudança. Durante meses emocionou-nos com os seus discursos e fez-nos acreditar que, com ele, o Mundo seria um lugar melhor. Os portugueses acreditaram em ti, Barack. Não que devessem, visto que não tens obrigação nenhuma em relação a eles.Mas acreditaram.

Quando te insultavam, presenteando-te com insultos tão terríveis como "socialista", nós revoltávamos-nos contigo (aliás a conotação negativa que a a palavra "socialismo" tem nos EUA tem a ver com o nosso Partido Socialista, não é?). Quando confirmávamos que estavas à frente do teu adversário nas sondagens (quem? Aquele cujo único papel foi tornar a tua vitória ainda mais brilhante? Aquele vilão rídiculo e insignificante que só serviu para realçar a grandeza do herói.) regozijávamos contigo.

Ganhaste as eleições... E mudança, nada...

Ficarei à espera de alguém que, tal como tu, me faça acreditar... Provavelmente, tal como tu, irá desiludir-me...

Com tudo isto, acho que consegui ser das primeiras pessoas a deitar abaixo o Obama! E a mostrar-me desiludido por este não corresponder às expectativas. Daqui a um mês ou dois outros se seguirão. E ele ainda nem tomou posse...

Ponto 2

Já que falo do Barack Obama aproveito para dizer-vos que foi graças a mim que ele ganhou. Há uns meses, ainda este não tinha ganho as primárias, num momento de rara maturidade resolvi adquirir isto:


E com isto contribuí com 1 dólar para a campanha do novo Presidente dos EUA. Para além do investimento que fiz (hoje uma action figure do Roosevelt vale, certamente, uma fortuna. Imaginem quanto não valerá esta daqui a umas dezenas de anos. Os meus netos vão ser milionários), permitiu-me dar o contributo necessário para a vitória de Obama. Não contribuí para a campanha de Al Gore, ele perdeu. Não contribuí para a campanha de John Kerry, ele perdeu. Contribuí para a campanha do Obama, ele ganhou.

Podem agradecer-me pelo Mundo melhor onde hoje vivemos...

De nada...

Ponto 3

A internet e a evolução do nível de vida permitiu-nos, entre outras coisas, comunicar mais do que nunca. Tudo o que é informação e comunicação está mais acessível, o que, à partida, parece uma coisa boa. Infelizmente não é, porque somos obrigados a ouvir aquelas pessoas que até há pouco estavam fechadas em casa a enviar as suas mensagens de ódio por pombo correio, a gritá-las pela janela ou entre dois copos de vinho branco com gasosa na tasca de um qualquer bairro. Já nessa altura chateavam, mas nunca, como hoje estamos tão vulneráveis a eles.

Eles estão em todo o lado: nas caixas de comentários das notícias dos jornais on line (então nos de desporto...), nas televisões, nas revistas, nos blogues... É impossível fugir deles...

Hoje, por acidente, ouvi um industrial qualquer do Norte de Portugal no Fórum da TSF a defender a avaliação dos professores porque "há alguns que deviam ir presos".

Não fazia a mínima ideia que uma das consequências do processo de avaliação dos professores seria colocá-los na prisão. A menos que numa aula assistida este mandasse um tiro a um aluno, acho que essa não é uma das consequências previstas.

No entanto achei interessante esta hipótese. Acho que impedir os professores mal avaliados de progredirem na carreira não é castigo suficiente. Logo imaginei uma série de castigos a que se deveriam submeter os professores que fossem classificados com Insuficiente:

  • Pena de morte (nada mau para começar)
  • 4 anos no Tarrafal
  • uma semana seguida a ouvir o novo CD do André Sardet (eu trocava esta pela pena de morte...)
  • Um fim-de-semana romântico com Maria de Lurdes Rodrigues (que melhor motivação para um professor se esforçar para ser bem classificado do que evitar um castigo destes?)
  • ...

Podem dar sugestões...


P. S. Decidi colocar na barra lateral a aplicação dos seguidores. Próximo passo: criar um culto.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Na casa de Saddam


Neste fim-de-semana tive a oportunidade de ver a mini série da BBC "House of Saddam" sobre a vida do ditador iraquiano que todos nós conhecemos e, nalguns casos, admiramos (esta é para vocês meus leitores sunitas! Para não dizerem que eu me esqueci de vocês).

A série é muito interessante e muito boa não só historicamente mas também artísticamente. Se quiserem posso emprestar-vos. É uma mistura de série histórica com Sopranos e, em algumas partes, com o "Música no Coração" (a parte em que a mulher de Saddam e as filhas são obrigadas a fugir devido à invasão americana é muito parecida com o fim do "Música no Coração") e tem, de facto, muita qualidade.

O único político português sobre quem se poderia fazer algo do género seria, talvez, o Major Valentim Loureiro: "House of Valentim". Só que, neste caso, seria uma mistura de série histórica, com Sopranos e, nalgumas partes com um teledisco dos Ban e um anúncio da Worten (por causa daquilo dos electrodomésticos... era uma piada...).

Aprendi mesmo muito com a série "House of Saddam", nomeadamente que Saddam falava fluentemente Inglês, embora com um leve sotaque iraquiano. Assim como quase todos os iraquianos que apareciam no filme. Desconhecia que a língua oficial do Iraque fosse o Inglês e a única vez em que ouvi uma língua diferente foi quando um militar americano interrogou um dos guarda-costas de Saddam em árabe. Este respondeu-lhe na mesma língua. Fê-lo por boa educação visto que, momentos antes, conversava animadamente com Saddam em Inglês.

De salientar que o referido guarda-costas de Saddam era extremamente parecido com o Prof. Neca (talvez fosse mesmo o Prof. Neca... quem sabe se numa das suas emigrações para o Médio Oriente ele não terá sido guarda-costas de Saddam? Ninguém sabe... Aliás, ninguém sabe sequer onde é que ele está agora... talvez esteja em Guantanamo com o Artur Jorge...).

A série deixou-me a imaginar como seria se, por artes mágicas, eu trocasse de lugar com Saddam (imaginando que este ainda era rei e senhor do berço da civilização). Numa bela manhã eu acordaria no lugar do tirano e este, por sua vez, acordaria no meu lugar.

Teria a sua piada ver o Saddam lá na empresa, a aturar ditadores bem piores do que ele, a ter que tirar fotocópias, a ter que fazer powerpoints e a ter que levar com o ar condicionado numa temperatura que um esquimó classificaria de "fria como o caraças" e que me permite, nos tempos mortos, dedicar-me à construção de bonecos de neve, a fazer corridas de trenó e a transformar copos de sumo de limão em Calipos... Não me parece que o Saddam tivesse estofo para ser estagiário e, muito provavelmente, passado uma hora estaria a chorar que nem um menino curdo cuja família tenha sido chacinada por armas químicas. Qual enforcamento qual quê! Castigo a sério seria pôr o Saddam no meu lugar!

Quanto a mim, acordaria nas calmas num dos palácios de Saddam, numa cama bem confortável e pensaria cá para comigo:

- Olha, estou no lugar do Saddam! - visivelmente surpreendido, pensaria nas consequências que este facto teria no meu futuro imediato - Porreiro! Já não tenho que entregar aquele relatório! - e pensaria, satisfeito no pobre Saddam apanhado de surpresa no meu lugar a sofrer as terríveis consequências da não entrega do referido relatório.

Virava-me para o lado e faria aquilo que sempre faço quando acordo no lugar de um ditador: continuava a dormir. O bom de acordar no lugar de um ditador é que, a fasquia está tão baixa que, por muito pouco que façamos, será sempre bem melhor do que aquilo que o nosso antecessor fez. Não iria matar curdos, nem opositores, nem os meus genros. Não tem muito a ver com a minha personalidade... Só o facto de dormir mais um bocadinho antes de açoitar o malandro do meu filho Uday que se safou demasiado impunemente de assassínios e violações e de deixar de chacinar opositores e povoações inteiras de curdos seriam vistos pela comunidade internacional como grandes progressos...

E é quando, perdido nestes devaneios, me vêm acordar:

- Sua eminência, sua eminência, precisa de acordar, nem imagina o que é que aconteceu...

- Calma... como é que te chamas?

- Mohamed, senhor. Aqui todos nos chamamos Mohamed.

- OK, Mohamed... dou-te... sei lá... um milhão de dólares se me deixares dormir mais 5 minutos...

- Sim, sua eminência...

Passados 5 minutos:

- Sua eminência, sua eminência, precisa de acordar, nem imagina o que é que aconteceu... Mas primeiro gostaria de receber o meu milhão de dólares... se fosse possível...

- Faço-te já uma transferência bancária... Diz lá então o que se passou...

- Um grupo de rebeldes infiltrou-se na televisão e disse coisas horríveis sobre a sua pessoa... - Mohamed olha para baixo, com um ar culpado, não escondendo o medo da ira do seu líder.

- Calma, Mohamed... Não pode ser assim tão mau... Mas foi sobre mim ou sobre a minha pessoa? - a língua árabe tem destas maravilhosas chalaças e permite-nos, mais do que o português, este tipo de humor inteligente e elaborado característico de empregados de mesa.

- Sobre si, sua Eminência... Eles disseram que... e estou só a citar, Sua Eminência.... eles disseram que a Sua Eminência "cheirava mal dos sovacos e tem sempre ranho no nariz" - ao dizer isto Mohamed esconde-se debaixo da cama presidencial.

- Ah! Ah! Ah! Isso tem muita graça... Eu sabia que esta minha sinusite me iria trazer problemas... Quanto aos sovacos, com 50 ºC o que é que eles queriam? Se me quiserem recomendar um desodorizante que o façam, é que eu já tentei tudo... E que mais disseram eles?

Um Mohamed incrédulo com uma resposta nada habitual do seu senhor responde-me:

- Não disseram mais nada, Senhor... É que...

- "É que" o quê? Desembucha lá, Mohamed...

- Eles foram decapitados...

É neste momento que eu caio em mim e vejo que ser tirano não tem mesmo grande piada e que prefiro de longe ser estagiário...

(O meu objectivo era continuar esta história e desenvolver uma série de ideias que tenho mas, sinceramente, não me apetece... Além disso, como é muito pouco provável eu acordar no lugar de quem quer que seja, tenho que fazer o tal relatório... Mas daria uma bela comédia do Ralph Schneider... Pode ser que continue esta saga mais tarde...)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A problemática dos restaurantes com problemas de exaustão


O amor é como um restaurante com problemas de exaustão. Quando saímos, temos um cheiro a fritos de tal maneira intenso e de tal maneira entranhado que, tão cedo, não conseguimos esquecer que estivemos no dito restaurante. É a sua maneira de nos lembrar que estivemos lá.

Quando isso acontece, ao menos que a refeição tenha sido barata...

(eu digo isto porque o meu último e único grande amor vendia rissóis para fora. Logo, a minha percepção sobre o que é o amor está indissociavelmente associada ao cheiro a fritos. Bastava aproximar-me a menos de 20 metros dela para ficar marcado com um contundente e gorduroso cheiro a croquetes. Tinha a vantagem de, nessa altura não ter qualquer tipo de preocupação com o meu odor corporal. Por muito mal que cheirasse aquele cheiro a óleo Fula abafava qualquer coisa. Acho que estes hábitos talvez estejam na origem da minha inépcia para encontrar de novo o amor...)

Mas não é sobre o amor que vou falar. Não que o tema não me agrade mas porque neste momento estou mais preocupado com restaurantes com problemas de exaustão.

Só quem sabe o que é o verdadeiro amor percebe esta questão dos restaurantes com problemas de exaustão. Supostamente uma pessoa vai a um restaurante para comer e, eventualmente, passar um bom momento com amigos enquanto desfruta do melhor (ou do pior) que o mundo da gastronomia tem para nos oferecer. Não é suposto o restaurante acompanhar-nos depois disso. É como se quiséssemos sair do restaurante e ele nos estivesse a dizer: "Não! Volta cá para dentro! Mas o que é que se passou? Não gostas da comida?".

Fazendo com que recordemos constantemente o cheiro das pataniscas que acabámos de devorar quando a última coisa que queremos é voltar a comer pataniscas. Lembrando-nos que para uma coisa boa há sempre o reverso da medalha. À ideia de termos algo que nos faz felizes, surge sempre associada a sua perda. É inevitável! E, mesmo que, imersos em felicidade nos esqueçamos disso, a perda é sempre possível e muito provável. Para uma coisa boa como um bife com batatas fritas está sempre associada uma coisa má como o cheiro a fritos. Vamos deixar de comer bife com batatas fritas? Não. Ou seja, podemos tentar fugir, mas o cheiro a fritos vai acabar sempre por nos apanhar...

E a solução infelizmente não passa por substituir aquele cheiro por outro cheiro. Por exemplo, se tentarmos substituir o cheiro a fritos intenso por outro cheiro igualmente mau e facilmente entranhável na roupa como o cheiro do fumo de tabaco aquilo que acontece não é algo do género "entra um, sai outro". Não. O que acontece é que vamos fundir os dois cheiros criando um aroma igualmente mau... mas a duplicar...

Enfim, apesar de tudo não há nada melhor do que um bom restaurante com problemas de exaustão e com um menu de pratos bem gordurosos... Mesmo com o cheiro...

P.S. O meu último amor não vendia rissóis para fora, nem, tão pouco, cheirava a fritos... Mas o seu cheiro continua bem entranhado...

3 de Novembro