segunda-feira, 10 de junho de 2013

Pedir perdão

Em que altura é que se deu a decadência da palavra perdão? Começou por ser uma palavra utilizada para, de forma nobre, emendar erros cometidos e procurar a redenção aos olhos de alguém para ser apenas utilizada quando se dão arrotos...

Até assassinos pedem perdão por arrotarem como se fosse o seu acto mais abjecto.

Quando é que pedir perdão passou a dizer respeito exclusivamente a arrotos? Terá sido o programa da SIC "Perdoa-me" a destruir a palavra perdão para toda a gente? Foi nessa altura que os portugueses perceberam a mensagem? "Depois desta porcaria, só vou pedir perdão depois de arrotar!".

Não sei. Mas depois de arruinarem o "perdão" temo pelo "por favor" e pelo "com todo o respeito". É que apesar de continuarem a ser utilizadas nos seus contextos originais, tenho ouvido coisas tão perturbadoras como "Queres fazer o favor de te pôr a andar antes que te arrebente o focinho?" ou "Com todo o respeito, és um grandessíssimo filho da puta". 

É a evolução.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Conversa sobre super-poderes

- Se pudesses ter um super-poder, qual é que escolhias?

- Escolhia o poder de com um simples estalar de dedos engravidar todas as mulheres do Mundo ao mesmo tempo. E ter a memória de fazer amor com todas elas. Embora isso não acontecesse na prática…

- No fundo, escolhias o poder de violar em massa todas as mulheres do Mundo… E como seria o teu fato de Super Tarado?

- Estás a fazer uma interpretação maliciosa… Basicamente teria o poder de fazer a todas as mulheres do Mundo aquilo que Deus fez à Virgem Maria. Se não há nada mais bonito do que o nascimento de uma criança, imagina o nascimento de centenas de milhões delas? Existe poder mais altruísta do que este? Os poderes de voar, da invisibilidade, de visão raios-x são poderes egoístas, no sentido em que servem para pouco mais do que dar uma sensação de superioridade ao seu portador. O meu super-poder seria uma dádiva de milhões de pessoas a toda a Humanidade. Um novo futuro.

- Belo presente! A Humanidade ficaria muito agradecida por esse babyboom de irmãos. Toda uma nova geração que para poder procriar terá que recorrer ao incesto… A questão da consanguinidade não te preocupa? Não te perturba a ideia de os teus milhões de filhos, com os quais não tens qualquer vínculo emocional, andarem a cometer incesto entre si? E depois há questões práticas. O que é que acontecia às mulheres que já estivessem grávidas? O teu bebé comia o anterior ou conviviam juntos no mesmo útero? E as mulheres comprometidas? Gostavas que algum "super-herói" fizesse isso à tua namorada?

- São boas questões… Se calhar escolhia outro poder. O poder de impedir que houvesse algum super-herói que engravidasse todas as mulheres do Mundo ao mesmo tempo. Se isso alguma vez acontecesse teria o poder de provocar um aborto global.

- És uma pessoa sensata.

- E tu? Que super-poder escolhias?

- O poder de falar com animais.

- Como o Dr. Doolittle?

- Sim.

- Porquê?

- Porque gosto de animais e gostava de poder falar com eles, saber a sua opinião, debater e assim criar um Mundo melhor…

- Sabes que os animais não são personagens de um filme da Disney. Têm uma estrutura cognitiva diferente da nossa. Provavelmente não conseguirias debater o o conflito israelo-palestiniano com um tigre. Enquanto expunhas a tua opinião ele iria simplesmente estar a pensar na sua próxima refeição. Que neste caso seria muito provavelmente o humano que está a discorrer sobre as implicações da existência do Estado de Israel. Pode parecer estranho, mas o instinto da maior parte dos animais é ignorar questões centrais de geopolítica. O teu poder só faria sentido se, paralelamente, fosse atribuída a todos os animais uma inteligência semelhante à nossa. O que iria provocar um enorme desequilíbrio na natureza. Já imaginaste se todas as formigas do planeta, que devem ser aos triliões, tivessem as mesmas aspirações e colocassem as mesmas questões existenciais que os seres humanos? E o que isso implicava ao nível do ecossistema? Seria insustentável! Nem quero imaginar um Mundo em que as formigas quisessem ter iPads, estudar cinema ou tirar selfies a toda a hora. O instagram crashava todos os dias! Já pensaste nisso?!

- Tens razão. Tenho uma visão infantil dos animais. Não somos grande coisa a escolher super-poderes…

- Pois não. Se voltasses atrás no tempo e adoptasses um cão abandonado e, depois de te afeiçoares ao animal, descobrias que ele iria transformar-se numa pessoa e que essa pessoa era o Hitler o que é que fazias?

- Excelente pergunta!

Se gostarem da minha página no facebook podem ganhar uns óculos iguais aos do Clark Kent (só que com um nariz e um bigode acoplados porque só o Super Homem tem o poder de ficar irreconhecível de óculos).

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Crítica cinematográfica sobre uma coisa que não é bem um filme



O melhor que se pode dizer de Ressaca - Parte 2 é que o actor com melhor desempenho é um macaco, curiosamente o mesmo tipo de animal que os autores do filme parecem considerar que é o seu público alvo. Assim é fácil, um macaco tem sempre piada. Ponham um macaco n'"A Lista de Schindler" e até aí o bicho tem piada (felizmente o Spielberg resistiu à tentação). Mas é muito pouco para salvar um filme. Se há coisa que detesto mais do que um mau filme (e eu até sou capaz de gostar de maus filmes) é um filme que para além de ser mau, tenta fazer de mim estúpido. A premissa "Vamos fazer exactamente o mesmo filme, mas agora na Tailândia e com um macaco" é um insulto à inteligência do público. Agora vejo que vai sair a Ressaca - Parte 3, numa tentativa de nos provar que há coisas bem piores do que genocídio ressacas a sério. E parece que tem outro animal engraçado: uma girafa que morre numa auto-estrada. Hilariante. Pelo menos não me voltam a enganar, a única maneira de suportar este filme é se me deixarem tomar uns quantos roofies durante o genérico (eu gostei do primeiro e gosto de alguns dos actores, daí a minha desilusão).

Se fizerem like na página deste blog habilitam-se a ganhar um pequeno almoço na barriga do Zach Galifianakis. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Romantismo

Se há coisa que me revolta mesmo é falta de romantismo (e terrorismo, pior que isso só romantismo terrorista). Detesto que os homens tenham de se ajoelhar enquanto pedem as mulheres em casamento. Se é para acompanhar o pedido de casamento com uma demonstração física ao menos que façam uma coisa um bocado mais complexa, à altura do sentimento que estão a demonstrar.

Um flick-flack, malabarismo com gatos a fazer de bolas, um mortal à Fernando Couto ou tocar a ponta do nariz com a língua são demonstrações físicas bem mais românticas e muito mais dignas de sublinhar um momento tão importante na vida de uma pessoa como um pedido de casamento do que um reles ajoelhar.

Qualquer um se ajoelha, mas nem toda a gente consegue enfiar 15 cachorros na boca ao mesmo tempo. Alguma mulher diria que não a um pedido de casamento de um homem com tamanho talento? Quanto mais não fosse para o homem não morrer a pensar que ela lhe disse que não. Ninguém diz que não a um moribundo.

(excerto da minha candidatura para ghostwriter do Nicholas Sparks)