segunda-feira, 30 de junho de 2014

Idiotamobile

No outro dia vi um carro com um autocolante a dizer "Gostosão a bordo. O que é uma excelente alternativa a uma tatuagem na testa a dizer "Sou uma besta". A mensagem é a mesma!

É que este é o tipo de carro com o qual convém ter muito cuidado já que todos os espelhos retrovisores devem estar virados para o idiota que vai a conduzir. Afinal um minuto a olhar para a estrada é menos um minuto a admirar o quanto ele próprio é um gostosão. Se o autocolante "Bebé a bordo" nos incentiva a sermos cautelosos e a conduzirmos de forma a reduzir a probabilidade de nos tornarmos assassinos de bebés (apesar de transformar qualquer carro numa carrinha de gelados para pedófilos), o autocolante "Gostosão a bordo" incentiva-nos a aderir a uma missão kamikaze contra indivíduos que se auto-intitulam "gostosões". Transforma uma atitude extremamente irresponsável como conduzir sob o efeito de álcool numa missão para salvar a Humanidade.

O que me incomoda não é a autoconfiança em si, é a existência do autocolante e tudo o que isso implica. Mesmo que seja um presente (o que, sendo a melhor das hipóteses, nos faz tomar consciência de que vivemos num Mundo em que alguém considera um autocolante destes um bom presente como alternativa a um molho de bróculos ou a um CD virgem, por exemplo), houve um momento em que esta pessoa tomou a decisão de espalhar pelo Mundo a opinião favorável que tem de si própria em português do Brasil. Abandonou o que estava a fazer e dirigiu-se ao seu carro (porque colar autocolantes no carro sempre foi a maneira mais eficaz de comunicar a nossa mensagem ao Mundo). E enquanto colava o seu autocolantezinho estúpido com todo o cuidado, garantindo que não ficam bolhinhas de ar ou que não está torto ou que este fica no sítio mais visível possível, esta pessoa estava a assumir um compromisso grande demais para com a ideia de que se acha um gostosão. Uma coisa é, num dia bom, passar pelo espelho e pensar fugazmente "Até tenho bom aspecto". Nunca me aconteceu mas é perfeitamente aceitável. Outra coisa é assumir uma empreitada de mais de 5 minutos a celebrar publicamente o seu bom aspecto físico. É o equivalente a alguém tomar posse como Presidente da Comissão Organizadora do seu próprio jantar de homenagem ou do seu próprio Clube de fãs. Neste caso não é o facto de a pessoa se achar gostosa que me incomoda é o ponto a que essa pessoa chega para divulgar essa ideia.

O único lado positivo do autocolante é que pode vir a ser um acto de altruísmo em relação aos bombeiros que, em caso de acidente, não se vão sentir tão culpados por não o conseguirem desencarcerar a tempo. Mas se o objectivo for este, um galhardete das Waffen SS funciona melhor (dar a entender a estas pessoas que têm de lidar com a morte todos os dias que existia uma forte possibilidade de a pessoa que acabaram de perder poder vir a ser um novo Hitler é uma maneira de as fazer sentir um pouco melhor).

Se querem ser verdadeiramente gostosões, mas humildes, gostem da página deste blog no facebook (uma rede social conhecida pela sua falta de tolerância por gente egocêntrica). 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

6 regras para descobrir se encontrou o(a) tal

Está numa relação mas não sabe se essa pessoa é a tal? Essa dúvida é inquietante porque sempre achou que ia encontrar a sua alma gémea. Só que num Mundo de 7 mil milhões de pessoas isso é como encontrar uma agulha em mil palheiros e o tempo não chega para tudo (pelo menos se, pelo meio, ainda se der ao trabalho de ler blogs idiotas). Ficam aqui as 6 regras que lhe vão facilitar a tarefa de identificação do(a) tal.


Regra número 1: Essa pessoa gosta de si pelo que você é.

Sabe que encontrou aquela pessoa especial se ela gostar de si pelo que você é e não por características acessórias como o seu dinheiro, estatuto, aspecto físico ou personalidade. A única maneira de verificar que alguém gosta de si pelo que você é é batendo no fundo: abandone o emprego, descure a higiene, esqueça hábitos saudáveis como exercício físico frequente ou uma alimentação equilibrada, meta-se na droga, pratique alguns crimes, comporte-se como uma besta. Se, mesmo assim, a outra pessoa continuar consigo é porque ela é a tal. Se ela o abandonar é porque, na verdade, não gostava o suficiente de si e o melhor é mesmo partir para outra. Há muito peixe no mar. Mas trate da sua vida primeiro. Isso não é maneira de se apresentar em lado nenhum...

 

Regra número 2: Essa pessoa afunda quando é atirada para dentro de um lago.

No tempo da Inquisição um dos métodos utilizados para verificar se uma pessoa era ou não uma bruxa era amarrando-a e atirando-a a um lago: se ela flutuasse era bruxa, se ela fosse ao fundo não era bruxa. Vários estudos feitos por algumas Universidades de prestígio concluem que este método utilizado pela Inquisição é um dos métodos mais eficazes para descobrir se a pessoa com quem mantêm uma relação é a tal. Se ela se mantiver à superfície, provavelmente não é a tal. Se ela for ao fundo pode ir festejando porque trata-se de alguém muito especial e submersível.


Regra número 3: Essa pessoa respeita as leis da física.

Algo de muito estranho se passa se a pessoa com quem mantêm uma relação for capaz de voar, atravessar paredes ou tornar-se translúcida. Obedecer às leis da física clássica e quântica é um aspecto essencial para a sobrevivência às exigências dos dias de hoje. As histórias de super-heróis são muito bonitas mas são as leis da física que nos salvam do risco de mantermos uma relação com uma pessoa que é constituída por anti-matéria e que pode explodir ao mínimo toque (o que torna o sexo uma actividade ainda mais arriscada e complexa, se é difícil encontrar o ponto G, imagine-se o bosão de Higgs).
Se o seu parceiro não obedecer às leis da física, provavelmente não é o tal. Esqueça piqueniques, passeios e noites tórridas de amor, deverá entregá-lo imediatamente às autoridades competentes com o fim de o poderem estudar e contribuir para o avanço da ciência. Quem sabe se, de um relacionamento falhado, surge um novo tratamento para a psoríase?

Regra número 4: Essa pessoa partilha a mesma orientação sexual consigo.

Se estiver numa relação heterossexual em que pelo menos uma das pessoas é homossexual, provavelmente não foram feitos um para o outro. O mesmo funciona numa relação homossexual em que pelo menos uma das pessoas é heterossexual. Se a sua reacção a este parágrafo foi "Ah! Com que então o problema era este! Como é que não tinha percebido que uma relação amorosa entre dois homens heterossexuais nunca podia dar certo?", esteja descansado. Não é o único idiota que ainda não encontrou a alma gémea. Não estou aqui para o julgar, mas sim, estou a dizer que você é um idiota... Insulto reforçado por vir de alguém que se deu ao trabalho de inventar 7 regras absurdas e sem fundamento para saber se encontrou o(a) tal. Devia fazê-lo pensar... Mas já perdemos demasiado tempo com idiotas. Passemos à regra seguinte.


Regra número 5: Essa pessoa não vomita sempre que o vê.

É socialmente aceitável regurgitar os conteúdos do nosso estômago quando contemplamos alguém de quem não gostamos ou temos conhecimento de uma notícia que nos perturba (fome em África, guerras, casamentos reais, etc.). É perfeitamente natural! Acontece-me todos os dias cruzar-me com pessoas que vomitam quando me vêem. É a opinião delas e têm direito a expressá-la como entenderem, mesmo que isso implique uma conta demasiado elevada na lavandaria. Não é suposto é a pessoa mais especial da sua vida vomitar quando o vê (pelo menos até ao 2.º ano da relação). Uma náusea, uma breve indisposição ou diarreia é normal e até é saudável numa relação, mas se vomitar sempre que o vê é porque não foram feitos um para o outro. Procure alguém que não fique agoniado consigo.


Regra número 6: Essa pessoa sabe responder às suas questões.

É importante que essa pessoa o complete. O que isso quer dizer é que deve saber tudo o que você não saiba. Tem, por isso, que saber responder a todas as questões cujas respostas desconhece, da mesma maneira que você tem que saber responder a todas as questões que ele desconhece. Por exemplo, se um de vocês não sabe qual é o sentido da vida, o outro tem que saber. Ou, se um de vocês precisar de saber qual o resultado de 7543x2343 sem recorrer a calculadora o outro tem que saber responder. Ou enunciar sinteticamente as leis de Newton, as principais vitórias dos Aliados na 2.ª Guerra Mundial ou os melhores marcadores do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão de futebol. Se essa pessoa não o completar desta maneira, não perca mais tempo com ela. Estar numa relação saudável é nunca mais precisar de procurar coisas na Wikipedia. Mas não se preocupe, a sua alma gémea anda por aí e sabe tudo o que você não sabe.

Se a pessoa com quem mantêm uma relação obedece a pelo menos 5 destas regras, tenho que lhe dar os parabéns por ter encontrado o(a) tal. Trate essa pessoa como ela merece e sejam felizes! 

Mesmo que não tenha encontrado o amor da sua vida, pode sempre gostar da minha página no facebook. É um substituto aceitável.