
Basta! Já esperei tempo demais. Não sou muito de entrar em euforias mas confesso que esperava ter acordado num novo Mundo no dia 5 de Novembro.
Esperava, no dia 5 de Novembro, acordar, sair da cama, abrir a janela, ser bafejado por um sol radiante, enquanto observava uma manada de cavalos selvagens a correr por um prado verdejante com um majestoso arco-íris como pano de fundo. Anjos tocavam harpa, anunciando-me que o Mundo tinha acabado de chegar a uma nova era. Em vez de cavalos vi carros a buzinar. Em vez de um prado verdejante vi o asfalto cinzento e os passeios repletos de cocó de cão do costume. Em vez de um arco-íris um outdoor gigante da Popota. Em vez de bafejado por um sol radiante, fui insultado por um grupo de miúdos a caminho da escola que estranharam o pranto de quem viu o Mundo cair a seus pés (sou capaz de mandar berros muito estridentes quando o Mundo cai a meus pés). Foi isto que vi da minha janela no dia 5 de Novembro...
Por momentos pensei: "Não estarei eu a pedir demais? Ainda não houve tempo. Talvez amanhã consigas ver os cavalos da tua janela. Talvez amanhã possas banhar-te nas águas límpidas do riacho que passará em frente da tua casa, exactamente no mesmo sítio onde hoje está aquele descampado com armazéns abandonados para onde os drogados vão e que a câmara nunca mais vem demolir. Dá um tempinho. Amanhã verás a mudança". Fui paciente e esperei. No dia seguinte a mesma coisa. Nem saí de casa. A seguir, o mesmo. Nada de cavalos, nada de prados verdejantes... Jurei que o meu próximo banho seria naquele riacho. Mas nada de riacho, nada de banho.
Mas decidi esperar pacientemente. Afinal foi-me prometida mudança e eu costumo acreditar nas promessas que me fazem. Mas hoje, finalmente explodi. E num acto de revolta resolvi... bem... vim escrever para o blog (não sou muito de actos extremos. Sonho um dia ter a coragem de, em actos de revolta ligar para o fórum da TSF).
Durante meses, um senhor chamado Barack Hussein Obama andou a prometer-nos mudança. Durante meses emocionou-nos com os seus discursos e fez-nos acreditar que, com ele, o Mundo seria um lugar melhor. Os portugueses acreditaram em ti, Barack. Não que devessem, visto que não tens obrigação nenhuma em relação a eles.Mas acreditaram.
Quando te insultavam, presenteando-te com insultos tão terríveis como "socialista", nós revoltávamos-nos contigo (aliás a conotação negativa que a a palavra "socialismo" tem nos EUA tem a ver com o nosso Partido Socialista, não é?). Quando confirmávamos que estavas à frente do teu adversário nas sondagens (quem? Aquele cujo único papel foi tornar a tua vitória ainda mais brilhante? Aquele vilão rídiculo e insignificante que só serviu para realçar a grandeza do herói.) regozijávamos contigo.
Ganhaste as eleições... E mudança, nada...
Ficarei à espera de alguém que, tal como tu, me faça acreditar... Provavelmente, tal como tu, irá desiludir-me...
Com tudo isto, acho que consegui ser das primeiras pessoas a deitar abaixo o Obama! E a mostrar-me desiludido por este não corresponder às expectativas. Daqui a um mês ou dois outros se seguirão. E ele ainda nem tomou posse...
Ponto 2
Já que falo do Barack Obama aproveito para dizer-vos que foi graças a mim que ele ganhou. Há uns meses, ainda este não tinha ganho as primárias, num momento de rara maturidade resolvi adquirir isto:

E com isto contribuí com 1 dólar para a campanha do novo Presidente dos EUA. Para além do investimento que fiz (hoje uma action figure do Roosevelt vale, certamente, uma fortuna. Imaginem quanto não valerá esta daqui a umas dezenas de anos. Os meus netos vão ser milionários), permitiu-me dar o contributo necessário para a vitória de Obama. Não contribuí para a campanha de Al Gore, ele perdeu. Não contribuí para a campanha de John Kerry, ele perdeu. Contribuí para a campanha do Obama, ele ganhou.
Podem agradecer-me pelo Mundo melhor onde hoje vivemos...
De nada...
Ponto 3
A internet e a evolução do nível de vida permitiu-nos, entre outras coisas, comunicar mais do que nunca. Tudo o que é informação e comunicação está mais acessível, o que, à partida, parece uma coisa boa. Infelizmente não é, porque somos obrigados a ouvir aquelas pessoas que até há pouco estavam fechadas em casa a enviar as suas mensagens de ódio por pombo correio, a gritá-las pela janela ou entre dois copos de vinho branco com gasosa na tasca de um qualquer bairro. Já nessa altura chateavam, mas nunca, como hoje estamos tão vulneráveis a eles.
Eles estão em todo o lado: nas caixas de comentários das notícias dos jornais on line (então nos de desporto...), nas televisões, nas revistas, nos blogues... É impossível fugir deles...
Hoje, por acidente, ouvi um industrial qualquer do Norte de Portugal no Fórum da TSF a defender a avaliação dos professores porque "há alguns que deviam ir presos".
Não fazia a mínima ideia que uma das consequências do processo de avaliação dos professores seria colocá-los na prisão. A menos que numa aula assistida este mandasse um tiro a um aluno, acho que essa não é uma das consequências previstas.
No entanto achei interessante esta hipótese. Acho que impedir os professores mal avaliados de progredirem na carreira não é castigo suficiente. Logo imaginei uma série de castigos a que se deveriam submeter os professores que fossem classificados com Insuficiente:
- Pena de morte (nada mau para começar)
- 4 anos no Tarrafal
- uma semana seguida a ouvir o novo CD do André Sardet (eu trocava esta pela pena de morte...)
- Um fim-de-semana romântico com Maria de Lurdes Rodrigues (que melhor motivação para um professor se esforçar para ser bem classificado do que evitar um castigo destes?)
- ...
Podem dar sugestões...
P. S. Decidi colocar na barra lateral a aplicação dos seguidores. Próximo passo: criar um culto.