sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Vagas de qualquer coisa


À falta de uma vaga de incêndios os jornalistas resolveram criar este ano uma “vaga de crime”. Desconheço qual será a “vaga” do próximo ano… Quem sabe uma “vaga de dinheiro” ou uma “vaga de gelado de baunilha e chocolate”? Ou então uma “vaga de vitórias do Benfica”? Desde que me lembro que peço uma vaga destas a Deus, ao Pai Natal, ao Génio da Lâmpada ou a quem quer que seja o responsável por ouvir os meus desejos, nomeadamente quando apago as velas do meu bolo de aniversário ou quando como a primeira passa na passagem de ano. As tristes evidências, e é escusado reflectir muito sobre elas, mostram que não tenho sido ouvido… Por outro lado nunca desejei uma vaga de incêndios ou uma vaga de crimes e ciclicamente elas acontecem… Será que se eu começar a desejá-las elas param? Vou experimentar. Acho que a minha próxima lista de desejos na Passagem de ano vai ser: supremacia do FCP no futebol português, uma vaga de crime na Primavera, uma vaga de incêndios no Verão, a derrota do Barack Obama (isto vou ter que desejar no meu aniversário porque na Passagem de Ano as eleições já aconteceram), o acentuar do aquecimento global, uma longa e próspera carreira musical para o André Sardet, três novos livros da Alexandra Solnado, não ganhar o primeiro prémio do Euromilhões e, se ainda tiver créditos, um acentuar da fome e dos conflitos a nível global… Desejava também uma caminha nova para o Marco Fortes que foi, para mim, o grande protagonista deste Verão! Este foi o meu momento Miss Universo, mas não é sobre isto que vou falar…


Acho piada a este conceito de vaga de crime. Como se, de repente, devido a qualquer estranho factor como o alinhamento de Vénus com Júpiter os criminosos que estão sentadinhos no seu sofá a ver as Tardes da Júlia, com as suas pantufas do Alf calçadas e o seu pijaminha da Hello Kitty vestido enquanto comem gomas em forma de ursinho (não sei porquê gosto de imaginar criminosos neste preparo) lembram-se e vão todos desatar a cometer crimes violentos… Não sei se é por causa das tardes da Júlia ou por causa do açúcar das gomas em forma de ursinho mas dá-lhes um flash que os leva a pousar o leitinho chocolatado, a pegar na caçadeira de canos cerrados e a correr desalmadamente para uma dependência bancária ou para uma bomba de gasolina… É assim que eu imagino uma vaga de crime.


Se num momento temos a percepção que vivemos num país que é um autêntico paraíso, sem criminalidade, sem pobreza, com boa comida, pessoas simpáticas e com uma medalha de ouro no triplo salto no momento seguinte, devido a estes devoradores de gomas, estamos em Chicago nos anos 30, em que a bala é a única lei. Serão estes vorazes comedores de gomas os responsáveis por atear incêndios nos anos anteriores? Serão eles os responsáveis pela vaga de pedofilia em 2003? Será que estes malandros são os responsáveis pela vaga do desaparecimento da Maddie do ano passado? Será que foram eles os responsáveis pela vaga de gaffes do Mário Lino? Que malandros…


E o que é engraçado nestas vagas é que elas não se sobrepõem… Enquanto há uma vaga de pedofilia não há vagas de incêndios ou quando há o desaparecimento de uma Maddie deixam de haver vagas de carjacking… Ou quando o Benfica despede um treinador deixam de haver vagas de pedofilia (a não ser que o Benfica tenha despedido o seu treinador por este ser pedófilo)… E nem falemos de uma vaga de computadores Magalhães, deixamos de ser um país de alcoólicos desempregados e ignorantes que batem na mulher para ser um dos países mais avançados na área da tecnologia.


Só porque a hora do telejornal é preenchida por notícias sobre a mesma temática (crime, pedofilia, computador Magalhães, etc.) não quer dizer que haja uma vaga do que quer que seja… Se os telejornais passassem uma hora a falar da cirrose do Sr. Armindo isto só queria dizer uma coisa: o Sr. Armindo tem cirrose. Não quer dizer que haja uma vaga de cirrose… É possível passar uma hora a falar sobre aquilo que quisermos… E são isto as vagas (excepção feita às vagas de incêndio… que têm as suas particularidades, se por um lado é mais fácil acontecerem no Verão e são um problema gravíssimo que merece a maior das atenções, por outro lado um dos motivos que levam a que sejam tão acentuadas é a atenção que lhes é dada durante a silly season, que faz com que muito boa gente comece a levar fósforos e bidões de gasolina para o mato para colocar a sua terrinha na televisão).


No que diz respeito à vaga de crime acho particular piada à reacção das pessoas. A típica reacção à tuga que, normalmente, tem solução para tudo, nomeadamente matar esses filhos da puta. É claro que esta solução tem nuances dependendo da vaga de que estamos a falar: a solução para a vaga de incêndios costuma ser “amarrar esses filhos da puta a uma árvore e deixá-los arder” e a solução para a vaga de pedofilia normalmente passa por “castrar os filhos da puta e metê-los na prisão para serem enrabados até morrerem”. Peço desculpa por estar constantemente a usar a expressão filhos da puta, mas é assim que nós, portugueses, gostamos de catalogar todos aqueles que matam, violam, ateiam incêndios, roubam, fogem aos impostos, não dão pisca antes das ultrapassagens ou apitam jogos de futebol (o que faz com que a percentagem da população portuguesa que está inserida na categoria “filhos da puta” seja cerca de 99,99% ou seja todos os portugueses menos eu e todos os que lêem este blog). Normalmente, depois de referir a atrocidade que faria ao filho da puta que cometeu a filha da putice que o afecta no momento, o português passa para o segundo nível da conversa: “isto no tempo do Salazar é que era bom, pelo menos não havia nada disto” ou “era preciso era um Salazar em cada esquina”. E é assim que os tugas resolvem os seus problemas, gostava de saber o que é que os portugueses fariam no tempo do Estado Novo aos filhos da puta que os exploravam, que os oprimiam e que os mandavam para a guerra… “Era metê-los no Campo de Ourique…” como dizia o outro…


A nossa sorte é que dizemos aquilo da boca para fora… Cão que ladra não morde e duvido que, na hora da verdade, fôssemos capazes de amarrar um incendiário a um pinheiro, regá-lo de gasolina: “Arde, filho da puta!”. Eu, pelo menos, não era capaz de o fazer e rogo tantas pragas aos incendiários como os demais. E, tal como eu, ninguém o faria, a não ser que tivesse graves distúrbios psicológicos. Só o dizemos porque sabemos que dificilmente estaremos em posição de fazer o que quer que seja em relação a esses filhos da puta


Mas há portugueses que estão nessa posição, nomeadamente os que estão governo. E aí é que está o problema… Não podendo queimar, esfolar ou empalar os filhos da puta responsáveis pelas atrocidades cometidas, os portugueses esperam de quem governe que faça isso por eles… E se a nossa sociedade evoluiu ao ponto de ser unânime que a tortura chinesa, o empalamento ou os autos de fé não são muito boa ideia, as soluções que os nossos políticos dão para a vaga de crime não são muito diferentes das propostas dadas nas tascas por esse país fora (a democracia no seu melhor)… Infelizmente para alguns políticos não é possível ressuscitar uns quantos Salazares para serem colocados em cada esquina, primeiro porque isso é muito Salazar e era capaz de ficar feio, segundo porque não é possível ressuscitá-lo… Acho mesmo piada ao conceito de colocar um Salazar em cada esquina… Se me dessem a hipótese de colocar o que quer que fosse em cada esquina não escolheria, obviamente, um Salazar… Talvez uma Scarlett Johanssen em cada esquina resolvesse muitos problemas…


Não podendo recorrer a estes métodos, as soluções que as mentes iluminadas que povoam o panorama político do nosso país apresentam para as vagas de crime passam pela severidade para com os criminosos, pelo aumento de Segurança, pelo armamento da polícia, pela contratação de mais polícias, pela mudança da lei, que é demasiado branda…


Tenho perfeita consciência que há muito a fazer nestas área, só que a minha escassa inteligência não me permite reflectir aprofundadamente sobre isso… Apesar das minhas óbvias limitações cognitivas, penso que os problemas são bem mais profundos do que parecem… Recuso-me a aceitar que o culpado pela vaga de criminalidade é um ministro que tomou posse há 3 anos, esta ideia parece-me tão estúpida quanto as pessoas que exigem a demissão do mesmo… Porque é que ninguém culpa os Ministros da Educação pelas vagas de crime? Porque é que ninguém fala do aumento do desemprego? Porque é que ninguém fala da percentagem enorme de população que vive abaixo do limiar da pobreza? Estes problemas são tão complexos que pensar que podem ser resolvidos através da contratação de meia dúzia de polícias é ridículo… Mas isto sou eu que não tenho a mente brilhante de um Luís Filipe Menezes ou de um Paulo Portas…Por isso é preciso relativizar um pouco o que eu digo. Eles devem saber o que estão a dizer, ao contrário de mim, que sou um bocado atrasado e não uso gravata…


E é isto… Tantos rodeios para uma ideia tão simples…


Para finalizar, vou falar sobre algo mais positivo… Não se pode dizer que seja positivo do tipo “Fogo! Isto é mesmo positivo!”, mas pronto, não é necessariamente negativo, está ali naquele meio termo… Pesquisem no youtube “Nelson Évora” e vejam o primeiro vídeo que aparece: a grandeza dos portugueses noutra perspectiva (dica da Inês).


E, já agora, espero que tenham tido umas boas férias! A ver pelas notícias, se não foram feitos reféns, se não foram vítimas de carjacking, se ninguém usou C-4 para assaltar o vosso carro blindado na auto-estrada, se não utilizaram a linha do Tui e se não foram à Quarteira tiveram umas excelentes férias!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hesitações e irritações

Onde está este texto anteriormente estava outro texto... Depois de dormir sobre o assunto decidi retirar esse outro texto... Pode ser que o volte a publicar, pode ser que não... Entretanto vou falar de uma coisa que me irrita muito: o último euro do depósito da gasolina. Por exemplo, vamos abastecer gasolina e predefinimos 20 euros. Tudo corre bem até chegar aos 19 euros, a partir dos 19 euros abranda, o que nos deixa numa expectativa estúpida: por um lado está quase, por outro lado está a demorar mais do que os outros 19 euros... é irritante!

Outra questão é quando estamos num grupo de 3 ou mais pessoas, dizemos alguma coisa e, ao não perceber o que dissemos, uma dessas pessoas, em vez de nos dizer "Não percebi. Importas-te de repetir?", vira-se para a outra pessoa "O que é que ele disse?", tipo tradutor.

Eu estou ali! Será que querem passar a mensagem de que aquilo que digo é tão imperceptível que já nem vale a pena pedir para repetir? Porque é que não chamam um especialista em línguas mortas? Falamos todos português, não é preciso tradução nenhuma! O que eu achava piada era se o "tradutor" lhe respondesse em coreano, aí sim estaria a traduzir e tornava a conversa mais interessante. Imaginemos o seguinte diálogo entre a pessoa A, B e C:

A: Aquela cena dos reféns foi mesmo chata...
B: O que é que ele disse? - para a pessoa C.
C: Disse que a cena dos reféns foi mesmo chata....
B: Ah! Diz-lhe que eu também concordo... E já que ele não nos percebe, não achas que aquela camisa cor-de-rosa não favorece nada a sua cor dos olhos.

Não sei se já passaram por isto. A mim já aconteceu algumas vezes e é o mais próximo que eu já me senti de um chimpanzé... Coitados dos bichos! Podem estar a querer dizer a coisa mais profunda sempre que, para nós, soará sempre a bichos... Deve ser revoltante para um chimpanzé estar a discorrer sobre semiótica e ouvir a resposta: "Olha que fofinho... Tão giro... Vamos vesti-lo como uma pessoa e ensiná-lo a separar o lixo! Ou então pômo-lo a jogar bilhar, tiramos uma foto e fazemos postais...".

Outra coisa que me irrita são as pessoas que levam bebés para a Loja do Cidadão por causa de um Decreto-Lei XPTO que lhes dá prioridade no atendimento. É que fico sempre com a sensação de que só levam os pobres bebés para passarem à frente dos outros: "Olha para mim, nem preciso de tirar senhas!". Porque é que não deixam os bebés em casa e os poupam àquele ambiente... Devia ser proibido levar para lá bebés, quanto mais premiar quem os leva! Por outro lado, parece-me uma óptima razão para ter filhos...

Irrita-me também o SMSês. Aquela mania de trocar s's por x's e o's por u's... A palavra "xoxinhu" tem exactamente os mesmos caracteres que palavra "sózinho". Não é nenhuma abreviatura, é apenas estúpido! Não lhes permite ganhar espaço nenhum nas mensagens! Qual é a diferença entre ctg e ktg? A merda do capa! Faz-me lembrar aquelas cantoras de música popular que trocam o nome Cátia (um nome já de si belíssimo) por Kátia. E porque não Carlos por Karlos? Ou Constantino por Konstantinu? Ao menos o Joakim sempre tem uma razão para o fazer, ganha um caracter... Vocês só ganham um nome mais parvo!

Não gosto nada de casamentos... "Ai, vai ser o dia mais feliz da minha vida!". E o que acaba por acontecer é, em pleno Agosto, ficarem duas horas de pé a tirar fotografias com pessoas que não conhecem, vestidos de uma maneira completamente inapropriada para Agosto (já nem falo da estética), enquanto um bando de glutões enche o bandulho às nossas custas (eu falo por mim, quando vou a casamentos como o equivalente à ração anual de um agregado familiar constituído por 4 pessoas do Guatemala)... Alguém tem que ser muito perturbado para considerar isto o dia mais feliz da sua vida... Só se for pelas prendas... Ainda assim, de quantos jarros de cristal precisamos nós para sermos completamente felizes? Por favor...

Irrita-me o eufemismo usado para descrever a brejeirice do pinto da costa: "fina ironia". Se aquilo é "fina ironia", como é que descrevemos o acto de escarrar para o chão? Como um requintado acto de cavalheirismo? A par da sua flatulência (ou devo dizer ruído corporal de fino recorte?) a sua fina ironia é algo com que este hábil e sagaz dirigente desportivo (ou devo dizer corrupto?) nos brinda mais frequentemente...

Irrita-me que o Presidente da República faça tão poucas comunicações ao país... Principalmente à hora da "Tertúlia cor-de-rosa". Interessa-me mais o estatuto jurídico da Região Autónoma dos Açores do que a vida amorosa do Cristiano Ronaldo. Por falar nisso, Cristiano, não sei se sabes mas elas só estão contigo pelo dinheiro. Espero não magoar os teus sentimentos, mas não é pela tua personalidade... Pronto, não chores... Apesar de tudo é melhor do que viver do Rendimento Mínimo...

Irrita-me o computador Magalhães pelo precedente que abre. Será que agora vamos passar a baptizar os nossos electrodomésticos com os nomes das nossas figuras históricas? Será que daqui a uns anos vamos ter, na nossa cozinha, o frigorífico Vasco da Gama, a máquina de lavar roupa Adamastor ou a torradeira Padeira de Aljubarrota?

Outra coisa que me dá cabo dos nervos é o horóscopo... Gostava mesmo de ler o horóscopo da semana da minha morte. Será que vai dizer que "grandes mudanças se avizinham" ou "prepare-se porque vai mudar de casa brevemente"? Duvido muito...

Detesto a televisão generalista que, de generalista, só tem o lixo que oferece. Porque é que se dão ao trabalho de pôr telejornais nos intervalos das novelas, dos talk shows duvidosos e dos concursos?

Odeio monarquia, nobreza e sangue azul... Só a consanguinidade justifica que alguém acredite que é superior a outras pessoas só por ter nascido na família x ou y.

Detesto os asteróides que, a qualquer momento, podem destruir o planeta Terra. Deixem-nos destruir o nosso Planeta à vontade! O espaço é tão grande vão "orbitar" para outro lado! Já não chega o que fizeram aos dinossauros?

Dão-me vómitos as sondagens do Correio da Manhã que hoje me perguntam se "a vitória no tribunal de Carla Baía sobre Isméria foi justa". Quem? O quê? Porque é que me estão a perguntar isto? Quais os efeitos da minha resposta? Se eu disser que não o juiz vai rever o veredicto?

Gosto um bocadinho do Vasco Pulido Valente... Não gosto nada! Acho-o detestável!

Enfim, tinha que escrever algo do género para compensar a lamechice pegada que postei aqui ontem e que acabei por retirar... Por uma questão de equilíbrio.