Ontem, um senhor veio ter comigo e começou por dizer:
- Isto não é um assalto.
Aqui está uma maneira bem interessante de facilitar a comunicação entre as pessoas. Só ficamos a ganhar quando uma interacção é precedida pela enumeração de tudo aquilo que ela não é.
- Isto não é um homicídio, isto não é uma violação, isto não é um número de malabarismo, isto não é um cachimbo, isto não é o Abel Xavier, isto não é uma leitura d'"Os Lusíadas", isto não é um elfo a jogar raquetes com um anão, isto não é o Cavaco a fazer stand up comedy...
- Então o que é?
- Não me lembro... Ah! É um inquérito que tenho que fazer que, na prática, é uma maneira mais chata de pedir dinheiro...
Se enumerarmos tudo aquilo que uma interacção não vai ser talvez o nosso interlocutor consiga descobrir o que ela é por exclusão de partes. E isso é a regra número um de uma boa comunicação: Não há melhor introdução para um assunto do que uma enumeração exaustiva de tudo o que não está relacionado com ele.
É um bom princípio quando aplicado à actividade de guias turísticos, por exemplo.
- Estamos aqui em frente de uma coisa que não é um urinol, não é um chimpanzé do sexo feminino, não é um chimpanzé do sexo masculino, não é um quadro do Picasso, não é a Torre Eiffel, não é uma Bimby, não é um serial killer, não é uma pega de forcados, não é um electricista, não é o fim do arco-íris, não é a espada do Conan o Bárbaro, não é uma sandes de salmão fumado...
(passados 3 milhões de anos)
...e, finalmente, não é um novo paradigma... Penso que já vos dei informações suficientes para saberem o que é isto...
- Das duas uma, ou é o mosteiro dos Jerónimos ou é o pé esquerdo do Júlio Isidro.
- Tem toda a razão! Esqueci-me de mencionar o pé esquerdo do Júlio Isidro. Não é o pé esquerdo do Júlio Isidro.
- É o mosteiro dos Jerónimos, então...
- Muito bem! O mosteiro dos Jerónimos não foi desenhado pelo Pato Donald, por um televisor da marca Samsung, por um bandolim, pelo vírus da gripe, por mim...
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