sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quem quer vender a alma?


Os reality shows já não são novidade nenhuma, assim como também não é novidade que a Teresa Guilherme seja a figura de proa da introdução de todo o lixo em Portugal (não só o televisivo... acho que 1/3 de todos os resíduos tóxicos, sólidos e líquidos, existentes em Portugal é produzido por ela). Por muito baixo que desçamos, eis que surge a Teresa Guilherme para nos provar que para a baixeza não há limite. Enquanto tivermos a Teresa Guilherme podemos sempre acreditar que pior é sempre possível. Quando ela surgiu com o Big Brother todos achávamos que não há nada mais baixo do que nos deixarmos filmar durante 24 horas por dia e, com isso, expormos a nossa vida e a nossa família para podermos usufruir de uns míseros, fortuitos e decadentes 15 minutos de fama. Minutos esses que nos podem abrir muitas portas como as portas do hospital psiquiátrico ou as portas da prisão. Quando achávamos que o Big Brother era a degradação de todos os valores da nossa sociedade eis que surge a Teresa Guilherme para nos provar que o Big Brother é uma simples festinha na cabeça quando comparado com o pontapé no escroto que estamos prestes a levar.

O "Momento da verdade" apanhou os portugueses de surpresa. Principalmente os clientes daquele merceeiro que admitiu que os roubava e a sua mulher, que jamais pensaria que iria expor a violência doméstica de que é vítima em directo na TV.

Confesso que fiquei extremamente revoltado. Ver alguém a admitir na televisão que bate na mulher é degradante... Se há algo que não se deve expor é a violência doméstica. É algo para ser usufruído no conforto e na privacidade do lar e para ser disfarçado com óculos de sol e falsos sorrisos… Admitir publicamente a violência doméstica é um atentado a uma das mais enraizadas e fortes tradições do nosso país. A violência doméstica é uma instituição. Uma instituição só equiparável ao próprio casamento. Tão equiparável quanto, na maior parte das vezes, indissociável. Creio que é à violência doméstica que os opositores do casamento de pessoas do mesmo sexo se referem quando dizem que a legalização do mesmo vem prejudicar a "instituição" casamento. De facto, violência doméstica entre pessoas do mesmo sexo não tem assim tanta piada. Um dos pontos fortes que os defensores desta referem e que deixa de existir nos casos do casamento entre pessoas do mesmo sexo é aquela questão da subjugação do mais fraco pelo mais forte. Como uma encenação da selecção natural de Darwin debaixo do nosso tecto. Pôr duas pessoas do mesmo sexo à porrada iria ser como uma rixa num bar ou uma briga de miúdas.

É por isso que oferecer dinheiro ao tradicional homem português para ele admitir que bate na mulher é descer muito baixo. E obrigá-lo a admitir isto depois de ter assumir que por 250.000 € era capaz de ter uma relação homossexual é ainda mais baixo. É um paradoxo. Então um homem tão machão, tão tipicamente português, que seduz as mulheres dos amigos, que aldraba os clientes e que anda com rolos de dinheiro no bolso era capaz de ter uma relação homossexual? É destruir um mito, destruir um mito essencial para a nossa identidade como portugueses. Nestes tempos de crise, em que estamos a milhas de distância de outros países da Europa, põem o típico português a admitir que era capaz de se prostituir com outro homem? Nestes tempos em que a única coisa a que nos podemos agarrar para sentir alguma esperança no nosso futuro e para melhorarmos a nossa auto-estima em relação aos maricas dos nossos parceiros europeus é a convicção de que, apesar de estarmos na merda, somos uns machões, vêm dizer-nos que isso é um mito? Vêem dizer-nos que só batemos na mulher porque somos uns frustrados que queríamos era ser pagos para estar com homens? Vêm dizer-nos que temos a nossa sexualidade reprimida por uma sociedade conservadora e com os seus valores distorcidos? Vêm dizer-nos que somos tão cobardes e submissos no dia-a-dia que temos que descarregar em quem é, supostamente, mais fraco?

Por favor, não destruam esse mito!

P.S. Agora um bocadinho mais a sério... É assustador haver uma empresa que pague dinheiro a alguém para revelar todos os seus sórdidos segredos... É assustador alguém revelar os seus sórdidos segredos para ganhar meia dúzia de tostões... É assustador alguém acreditar que isso vai dar audiências... É assustador isso ter audiências...
Não quero ser moralista, nem tão pouco defender a censura. Acredito plenamente na liberdade de expressão. No entanto, sinto arrepios só de pensar no conceito do Momento da Verdade. Sinto arrepios quando vejo alguém disposto a tudo para ganhar dinheiro. Senti arrepios quando me disseram que alguém foi à televisão admitir que tinha sexo desprotegido com dezenas de mulheres à frente da mulher que supostamente ama e de quem tem uma filha (Um homem que tem tantos tomates que até se dispõe a dizer isso na televisão não tinha tomates para ter sido honesto com a mulher antes de ter destruído a sua vida? ). Senti arrepios quando vi um homem a admitir que batia na mulher. Porque é que não pegam no dinheiro que dariam a um homem que admite em público que bate na mulher (como que a premiar a sua honestidade/brutalidade) e financiam a luta contra este abominável crime? Não sei se é só de mim mas custa-me muito ver alguém ganhar dinheiro por admitir que bate na mulher. Numa situação normal esse indivíduo deveria ser condenado, não recompensado...
Nunca vi nada tão decadente como isto e acho incrível ver as pessoas a aceitarem tão passiva e pacificamente este programa. Longe de mim pensar que se pudessem organizar protestos ou revoluções, mas contava, pelo menos, que o boicotassem.

7 comentários:

reb disse...

Nunca vi esse programa. Há coisas que nem consigo ver. Mas ouvi falar dessas coisas que relatas e deu-me náuseas. Estou a imaginar a teresa guilherme com a sua voz estridente, aquela boca cheia de dentes, aquela emotividade descontrolada ( ora ri desalmadamente, ora chora com pena dos convidados) a puxar pela língua de indivíduos que, só estão na tv pq já não há prisão preventiva :). No final daquilo, ela deve dar-lhes uns búzios ou pedras "benzidas" para acalmarem os impulsos.
Do célebre zé maria do big brother, lembro uma história que presenciei. Estava eu perto do rio numa esplanada ao fim da tarde, qdo vejo um homem esquelético, todo nu, a correr em direcção à água. Sentou-se na borda, com dois gatinhos recem-nascidos no colo.
Fui ter com ele ( não sabia quem era até me te aproximado), falei-lhe e ele só me disse: "estes gatinhos são bombas!".
Depois vieram várias carrinhas da ploícia para o levar para o hospital. Nunca percebi para que eram precisas 3 carrinhas para um "pobre diabo"...
Ouvi dizer que, antes de ser famoso, o zé maria era serralheiro numa aldeiazita...

Iris Restolho disse...

Nunca vi o programa, mas oiço as pessoas comentarem e sim acho horripilante tudo isso, mas por outro lado, acho mais horripilante, sendo a violência doméstica um crime público, ainda ninguém ter feito queixa do Sr. e o Sr. não ter sido já condenado e preso (o teste do polígrafo já foi feito, até se poupa uns tostões ao estado). Assim o dinheiro seria uma recompensa para a mulher (verdadeira e comprovada vítima) e uma bofetada de luva branca.
Por outro lado ele também seria recompensado, pois depois de admitir que até teria relações homossexuais, tenho a certeza que teria a oportunidade de as experimentar na prisão (seria mais um mito a sobreviver).

Iris Barroso

Que me dizem?!

Iris Barroso

idade_da_pedra disse...

eh pá, calhou outro dia ver um bocadinho dum programa desses. Um rapaz casado, na presença da mulher e da sogra, confessa que gostava de poder ir para a cama com a sogra:((( Deu-me vontade de chorar.
Eu sou absolutamente a favor da censura neste tipo de coisas, porque isto faz mal a toda gente, a quem lá está e quem vê. Permitir que alguém desenvolva gosto por ver estas coisas é horrível.
Mesmo que aquilo seja tudo mentira, encenação, criar audiências a partir de coisas destas parece-me uma degradação da humanidade.
Tenho dito...
(com isto nem consigo brincar)

reb disse...

Será que é tudo encenação?
Nunca tinha pensado nisso e tb nunca vi o programa, mas as pessoas que me falaram dele, dizem que são situações verídicas...

Woody disse...

Reb

Sempre pensei que essa história do Zé Maria era um mito urbano... Sabia que ele tinha tentado matar-se e já tinha ouvido qualquer coisa das "bombas" mas é mesmo curioso falar com alguém que assistiu a essa situação! É, de facto, muito triste... O homem bateu mesmo no fundo... É a metáfora perfeita da fama...
O programa não é encenação! Li na visão que eles fazem testes super rigorosos, falando com colegas, amigos, familiares e toda a gente que rodeia os potenciais concorrentes... Houve inclusivamente um deles, homossexual, que ficou sem emprego graças a este inquérito exaustivo... Depois da primeira houve um aumento acentuado de candidatos...

iris

Eu ouvi dizer que o Ministério público ia investigar o senhor, não sei é se é verdade...
Acho mesmo que se devia fazer alguma coisa até como exemplo. A violência doméstica é um crime terrível que ainda é muito banalizado em Portugal...

idade da pedra

Percebo perfeitamente o que queres dizer... Este programa representa tudo o que é eticamente reprovável e a decadência de valores na nossa sociedade... Só não concordo com a parte da censura, talvez por me entristecer ainda mais que essa seja a única solução para este tipo de coisas... Mas admito que possa ser essa a solução, até porque deve haver alguma lei que este programa quebre...

Iris Restolho disse...

É bom saber disso. Es pero que se dê o exemplo!

Gosto do novo visual, parabéns! Podemos ser melancólicos, mas nem por isso temos que ser góticos.

O teu blog tem melhor leitura agora. Já agora, porque não tiras a parvoice das letras, se aprovas todos os comentários, averificação de palavras torna-se desnecessária.

Woody disse...

Escolhi este layout porque facilita muito a leitura... Com o último que tinha era mesmo muito cansativo... Houve quem me dissesse isso e eu fui confirmar e era, de facto, verdade...
Já tirei isso da verificação de palavras... Nem sei bem para que é que servia mas nunca tinha pensado muito nisso... Obrigado pela dica!