Li na visão que Diogo Morgado foi escolhido para fazer o papel de Salazar na mini-série/filme “A Vida Privada de Salazar”. Isto dito assim não quer dizer nada. OK! Já era altura de, também nós, vendermos o nosso ditadorzeco e, na opinião de muitos, o maior português de todos os tempos. Os alemães fizeram-no de maneira soberba em “A Queda” e os americanos na pessoa de Oliver Stone estão prestes a fazê-lo através do filme “W”. Já era altura de nós, portugueses, fazermos algo do género. Mas pensando em Diogo Morgado o que é que nos vem à cabeça? É um modelo, que ganhou notoriedade aos 22 anos quando fez de uma espécie de Lolita masculina de 15 que se apaixonava por Ana Padrão, que recentemente tem entrado nos Malucos do Riso… Pensamos em muita coisa, menos em Salazar…
Quando me falaram sobre esta série sobre Salazar, pensei sempre em algo que nos passasse a imagem decrépita de um merceeiro, que o destino colocou à frente de um país, que nunca saiu de Portugal, que tinha uma relação erótica dúbia com uma governanta, possivelmente para disfarçar a sua homossexualidade, que nunca trocou de botas… Imaginava uma série um pouco menos interessante do que uma série de documentários sobre a reprodução de moluscos bivalves… No entanto, eis que tudo muda… O Diogo Morgado vai fazer de Salazar? Veio-me logo à cabeça uma série tipo “Morangos com Açúcar” (da qual sou grande fã), cheia de glamour, que transforma o tiranozito num galã, uma espécie de Johnny Depp, mas mais cool, com uma governanta igual à Soraia Chaves e que vai tomar uns copos com o seu amigo e confidente Cardeal Cerejeira (interpretado por aquele miúdo que fazia de Rodas nos Morangos com Açúcar), onde falam de gajas, de doenças venéreas, de “amandar” umas bombas paraa Guiné, da última freira que o Cerejeira engravidou e da voz de velha de Salazar que, indiscutivelmente, lhe permite engatar imensas gajas…
Isto foi a minha primeira ideia… No entanto acho que a meia dúzia de intelectuais de direita e de figuras do clero que se insurge contra este tipo de coisas no nosso país iria insurgir-se ainda mais e, como todos sabemos, ninguém quer que eles se insurjam, porque se eles se insurgem vão-se embora e depois quem é que nós vamos gozar? Por isso acho que a escolha de um actor bonito para o papel de Salazar (um homem que em termos de beleza está entre o escaravelho e o jacaré) representa uma grande oportunidade de recriar o verdadeiro e incompreendido herói português. Um pouco à imagem de Vasco da Gama n’”Os Lusíadas”. Um herói que as crianças vão querer seguir e acerca do qual os intelectuais de direita vão ter sonhos húmidos.
Imagino um Salazar a enfrentar a sua grande némesis Álvaro Cunhal (interpretado pelo tipo que faz de Tonecas) numa luta corpo a corpo, da qual sai vencedor inquestionável, livrando o país da terrível ameaça vermelha que, qual destino cruel, irá regressar (“Hás-de voltar a ouvir falar de mim” dirá o Álvaro Cunhal/Luís Aleluia humilhado pela derrota, em jeito de despedida como qualquer vilão da banda-desenhada) e Salazar, qual herói piedoso, poupa-o a uma morte cruel, ignorando que estará assim a encaminhar Portugal para esse fatídico e inevitável destino: o 25 de Abril. Tal como todas as grandes tragédias, também a história da nossa nação está constantemente sob uma ameaça que a impede de seguir o grandioso caminho que a espera, no tempo de Salazar era o Comunismo, hoje é o défice…
Imagino as juras de amor impossível entre Salazar/Diogo Morgado e a sua bela governanta (Soraia Chaves), que recusando-se a pôr a sua felicidade pessoal à frente do bem comum e do destino do nosso império, faz o derradeiro sacrifício de um herói, que abdica do amor terreno em prol da glória universal. Sem abdicar de a ter ao seu lado como sua governanta (alguém tinha que tratar das peúgas do nosso ditador, não? Salvar o Mundo não é compatível com este tipo de tarefas mundanas…) e de umas tórridas noites de amor, para captar um público mais ávido por esse tipo de cenas (apesar da sua áurea de imortalidade, o nosso herói não deixa de ser um Homem como todos nós… e ter a Soraia Chaves ali ao lado e não fazer nada… enfim… vocês sabem…).
Imagino um sábio Almirante Américo Thomaz (interpretado por Camilo de Oliveira ou por Guilherme Leite) a acalmar um inquieto Salazar perante a ameaça do facínora General Humberto Delgado (interpretado por Luciana Abreu) que promete retirar o império português da sua rota gloriosa em direcção à glória Mundial. “Nós venceremos esse patife” dirá Américo Thomaz, “o povo está connosco!”. Permitindo a todos os portugueses conhecer a verdade por detrás dessa eleição: “Sim, nós tivemos umas eleições tão democráticas como as inglesas… e ganhámos!” dirá um Diogo Morgado/Salazar emocionado com a vitória ao som de uma música do Vangelis.
Imagino um herói irascível e incompreendido que, perante as atrocidades cometidas pelos terroristas das frentes de libertação das colónias, resolve libertar o povo ultramarino dessa ameaça, em prol de um império português unido, forte e maior do que a Europa.
Imagino um Salazar embevecido e emocionado numa parada da Mocidade Portuguesa perante o auspicioso futuro de uma grande nação, enquanto pega ao colo numa criança que lhe oferece uma flor e lhe agradece por tudo o que fez por ela, metáfora de um país inocente, puro e leal que reconhece o seu grandioso líder como a única pessoa capaz de fazer cumprir o destino que ele merece.
Imagino, no final, um mesquinho e desprezível Spínola (interpretado por um inspirado José Raposo) a sabotar a fatídica cadeira de Salazar, qual calcanhar de Aquiles, deitando por terra os portentosos desígnios de uma grande nação, daí para a frente entregue à escumalha sem valores que tantas vezes o nosso herói derrotou. A única maneira de parar os grandes heróis é a traição e as suas mortes inglórias são apenas o reflexo da evidência da sua invencibilidade.
Paulo Portas, Jaime Nogueira Pinto e Mário Machado ficariam muito orgulhosos deste relato da vida do nosso ditador de meia tigela. Afinal, se este vai ser interpretado por um galã, também a sua história merece mais glamour do que a sua história verdadeira, a de um velho decrépito, homossexual latente, com aspirações a merceeiro... Além disso, se optarem por este caminho, terei muito que escrever no blog, o que tem sido muito difícil…
12 comentários:
Woody, ninguém me faz rir como tu:)))
Por favor, escreve um livro com as tuas crónicas sobre a Nação :)
Tu és de mais!!!!
Olha que eu sou prof de português e se visse um texto assim não hesitava: 20!!!!
Agora vamos às gargalhadas: o diogo não sei das quantas a fazer de salazar é realmente surrealista. Aquele corpo trabalhado em ginásios, aquele bronze de todo o ano a imitar a expressão fuinha do nosso ditador é inimaginável. Mas a soraia chaves a fazer de governanta:))))) lol, parti-me a rir.
Devias ecolher outra, pq a governanta era mais velha que o velho salazar ( mesmo qdo ele era novo)
O humberto delgado interpretado por aquela miuda que fez operação de aumento de peito desde que ficou célebre, é genial!!!
Bom, tu não existes e começo a pensar que és das produções fictícias :)
isso de entrar a soraia chaves ia levar à produçao de uma mini-série daquelas com a dita "bolinha vermelha".
Foi escolhido o diago morgado, ok, é homem serve, mas quem o seleccionou nunca viu uma foto que seja do salazar? tipo o salazar era atavico e uma verdadeira cavalgadura, assim de repente só me lembro de uma pessoa que se aproxima em termos de beleza, o paulo portas, mas sem o capaxinho.
Muito obrigado pelo elogio e pelo 20! A sério, não posso negar que ser elogiado dessa maneira faz com que valha a pena ter o blog... Ainda por cima elogios vindos de uma das pessoas mais interessantes que encontrei na blogosfera :)
Acho que a Soraia Chaves é perfeita para o papel de governanta visto que se não há um filme português que funcione sem a Soraia Chaves o papel mais indicado neste filme para ela, é mesmo o de governanta... Até gostava de ver como é que o Diogo Salazar iria reagir a um dos seus palavrões...
Quanto à Luciana Abreu a fazer de Humberto Delgado, bem, agora que me chamas a atenção para isso é que me apercebo do absurdo da questão... Quando estava a escrever pareceu-me algo natural... Um "obviamente demito-o" da floribella seria impagável...
Sobre o Paulo Portas, tendo em conta que no palco da política ele já assume um pouco o papel de um salazar de segunda categoria, não sei se iria resultar muito bem no filme... Acho mesmo que o Diogo Morgado está perfeito!
Desta vez sou eu a agradecer o elogio :)
Qto à Soraia, concordo ctg que filme sem ela não é um bom filme português. Mas eu reservava-a para o papel daquela jornalista francesa que entrevistou o salazar e com quem ele se passeou pelos jardins da casa onde vivia.
Para a governanta eu escolheria a manuela ferreira leite ou a maria de lurdes rodrigues ( não sei se a governanta era gorda ou magra). Tinha de ser alguém capaz de ter um olhar de ave de rapina e lábios de mealheiro :)
Texto altamente!
Gostei, particularmente, da tua sugestão para fazer a série em formato "Morangos com Açúcar".
Já estou mesmo a ver! De um lado, os betinhos: António Ferro, Cardeal Cerejeira, Marcelo Caetano e Salazar... Dias e noites reunidos na Discoteca Estado Novo a congeminar para contrariar as patifarias dos radicais do Colégio rival. Zita Seabra, Bento Jesus Caraça e, claro, o Álvaro Cunhal, o carismático maltrapilho de bom coração.
O poiso destes últimos, claro está, "A Kapital"
PS: andei mergulhado neste blog algum tempo, és um humorista muito talentoso, ainda andarei a ter de me esforçar para convencer terceiros de que conheço a figura por detrás do woody!
uindo!
Encontrei um blog que deves gostar, que o gajo tem um sentido de humorão tb: issodepende.blogspot.com
"...a sua história merece mais glamour do que a sua história verdadeira, a de um velho decrépito, homossexual latente, com aspirações a merceeiro... "
Woody, és demais. O que me rio com os teus desabafos, não tem conta nem medida... mas porque não?!
A história tem vindo a embelezar autênticos vilões, fazendo-os passar por herois incompreendidos, por quem as raparigas suspiram, como foi no caso do "Alexandre - de Oliver Stone", ou Aquiles no Troia. Que espectáculo de déspotas! Porque não o nosso Salazar?!
Na verdade nunca passará de produto interno, para mercado interno e como os miúdos hoje, pensam que nunca vivemos uma ditadura e que o 25 de Abril é o dia da árvore e que têm folga para aproveitar, sempre os podemos convencer que o Salazar era um derrete corações, capaz de lidar com uma Soraia Chaves estonteante e também os podemos convencer, tal como fazem com os morangos com açucar, que todos em Portugal e já naquele tempo, eram lindos e dignos de pertencerem à FaceModel, ou algo do género.
Pode ser que a História se torne mais interessante.
Será que é muita arrogância minha, sugerir para explorarem as cenas de dúbia homossexualidade? Estilo o que Oliver Stone fez com o Colin Farrell?!! Pleaaaaaaaaaaase...
:))
Hoje fiquei a saber que a soraia chaves entra realmente na série sobre salazar :)))
Adorei o texto, tens um sentido de humor delicioso, um talento desperdiçado. Faz-nos falta gente assim para nos deixar bem dispostos diariamente. Quanto ao elenco do tal filme, pago para ver. Não sabemos que perspectiva da vida de Salazar vão abordar...mas acho que com o Diogo e com a Soraia será uma abordagem muito interessante. HIHIHI!!!
Voltare a visitar-te, 5 estrelas
Looool
idade da pedra
Obrigado pela dica! Estava muito fixe, esse blog!
reb
Já vi que o papel da Soraia Chaves vai ser o de uma astróloga a quem o Botas recorria e com quem teve, supostamente, um caso...
É engraçado que passado tantos anos da sua morte se consiga pôr o Salazar a fazer coisas que nunca tinha feito como ganhar eleições (nos Grandes Portugueses) ou a ter relações amorosas com mulheres (nesta nova série)...
Freddy
No teu comentário deste uma grande ideia que daria um post provavelmente melhor que esse... Agora que já és mestre podias era dar uma ajudinha visto que a pessoa por detrás do Woody anda um bocado atolada em trabalho...
Lembrei-me também de fazer uma sitcom tipo Seinfeld sobre as peripécias na vida de um ditador. O Kramer, o amigo maluco, seria o Américo Thomaz e o Cardeal Cerejeira teria tudo para ser um George Constanza. A Elaine seria, claro, a governanta, o amor platónico (e promíscuo) do nosso herói. Se calhar esta ideia parece mais engraçada na minha cabeça do que na realidade, mas trocar o Seinfeld por um Salazar seria, no mínimo, caricato...
Irracional
Bem-vindo(a)! E muito obrigado pelos elogios! É sempre uma boa sensação quando alguém se refere a nós como talentosos, no entanto não acho que seja desperdiçado. Sinto-me muito bem em partilhar este hobby de mandar umas graçolas na internet!
Iris
Muito obrigado pelo elogio! Acho que era muito boa ideia criar uma relação homoerótica do Salazar com o Cardeal Cerejeira. Como uma metáfora da relação entre o poder espiritual e o poder temporal. Ou entre dois homens casados um com Deus e outro com a Nação, mas com as suas necessidades! Eu pagava para ver esse Brokeback Mountain à portuguesa e para ver a cara dos nossos fascistas...
Imagino os olhares fugidios do Salazar para o Cerejeira, a sua dificuldade a encarar os seus sentimentos, as mãos um do outro a tocarem ao de leve e o remorso que esta boa sensação provoca em ambos e, no fim, a explosão durante um passeio pela praia ao pôr do sol e o fuzilamento das testemunhas de tamanho acto de amor... Metáfora da frágil fronteira entre o amor e o ódio!
Acho que a tua ideia de trazer a homossexualidade para a história do Salazar é genial!
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