domingo, 21 de setembro de 2008

A música (?) de João Pedro Pais


Uma música do artista João Pedro Pais foi escolhida para tema da nova novela da TVI. Esperava mais de João Pedro Pais visto que uma pessoa que estudou na Casa Pia, o que o levou a frequentar os círculos mais restritos da alta sociedade, tem o dever de ambicionar algo mais do que fazer música para telenovelas.

Mas temos que fazer pela vida e há que dar um desconto ao João Pedro visto que, neste momento, a sua idade já não o permite frequentar os ambientes privilegiados a que estava habituado nos tempos da Casa Pia.

De qualquer maneira não podia passar indiferente ao regresso deste hino não sabe bem a quê de João Pedro Pais que a TVI resolveu reciclar, intitulado “Mais que uma vez”.
Admiro muito o processo criativo de João Pedro Pais. Partindo do exemplo da música “Mais que uma vez”, este parece consistir basicamente em fazer uma lista de palavras e juntá-las de uma maneira completamente aleatória. É então este Jackson Pollock da música ligeira portuguesa que homenageio aqui, transcrevendo e comentando a letra da sua música “Mais que uma vez”.

Mais que uma vez - João Pedro Pais


Da próxima vez, vou estar atento à tua fisgada
Encruzilhar-me na tua bancada
Ficar num canto e não me mexer.


João Pedro Pais entra em grande nesta música garantindo que vai estar atento à “tua fisgada”. Não se percebe bem a quem é que ele se está a referir. Será que ele se está a referir à nossa fisgada ou à fisgada de outra pessoa qualquer a quem ele dirige a música? Se se está a dirigir a mim não tenho nenhuma fisgada e, muito menos uma bancada onde ele se possa encruzilhar. O que é também um grande conceito, esse de alguém se encruzilhar numa bancada… Quanto a “ficares num canto e não te mexeres”, é o melhor que tens a fazer JP (posso chamar-te JP, não posso?). É a única maneira que tens de te protegeres de alguém que não goste assim tanto que estejas atento à sua fisgada… Há pessoas que não reagem muito bem a esse tipo de ameaças. Experimenta dizer isso a alguém em Nápoles...

Mais uma vez, vou seguir todos os teus caminhos
Fugir fingindo que me vês sorrindo

P'ra te fitar quando eu puder

Confesso que não percebo bem esta estrofe. Depois de nos garantir que estará atento à nossa fisgada, oferece-se para nos perseguir, para fugir enquanto finge que nós o vemos sorrindo e para nos fitar quando puder. É algo demasiado abstracto para conseguir ser percebido… É algo que nem um esquizofrénico paranóide usando um colete de forças diria… Mas dito com uma guitarra na mão e com aquela vozinha de anjo do JP até parece algo romântico… Agora que penso nisso, acho que não parece... Ao menos o colete de forças contextualizaria um pouco esta frase... Dito com uma guitarra na mão parece bem mais maluco...

Quero ser, personagem de banda desenhada
Onde me assumo numa cena errada
E em que todos me vão descobrir

Não sei exactamente que personagem de banda desenhada é que o JP quer ser… Ao que parece é uma personagem que estaria a precisar de sair do armário… O Incrível Hulk? O Tintim? O Lucky Luke? O Batman? Agora que penso nisso talvez seja o Robin, o companheiro do Batman… É o único que me estou a lembrar que poderia ter algo a assumir… Escusado será dizer que não encontro ligação às estrofes anteriores… Parece que no meio daquela maluqueira toda o João Pedro se lembrou que queria ser uma personagem de banda desenhada... Era bem pior se este se lembrasse que seria boa ideia ir passear para o shopping montado num elefante... Ao menos, o querer ser personagem de banda desenhada até pode ter o seu lado positivo, pode ser que ele se lembre de pôr uma capa aos ombros e se atire de um prédio ou que tente parar uma locomotiva com as mãos... Essas coisas que as personagens de banda desenhada costumam fazer...

Quero ficar um pouco mais dentro do teu casulo
Faço de conta, que sou teu e tu és meu assunto
Onde me entrego e tu te dás a conhecer

Depois de se encruzilhar na nossa bancada, ou na bancada de outra pessoa qualquer a quem João Pedro Pais se dirige, pessoa essa que, neste momento, deve estar bastante assustada e a quem eu aconselharia a pedir uma ordem de restrição ao tribunal, João Pedro Pais diz quer “ficar um pouco mais dentro do teu casulo”. Isto leva-nos a pensar que, se calhar, João Pedro Pais está a dirigir-se a um bicho da seda… É isso! Agora tudo faz mais sentido… Podemos dizer o que quisermos a um bicho da seda que a única coisa que ele vai fazer é construir o seu casulo, comer folhas de amoreira, fazer cocó, transformar-se numa borboleta, pôr ovos e morrer… Acho que a única maneira de esta música de João Pedro Pais fazer sentido é dirigida a um bicho da seda… É que este está-se a cagar para aquilo que o João Pedro Pais está a cantar, assim como o próprio João Pedro Pais… Acho que é uma teoria bastante plausível…

Que ninguém vá, onde vou
Nunca estás, onde estou
Que ninguém fale, de quem falou

Nunca digas quem eu sou

Este é o refrão mais espectacular da música pop portuguesa desde o “Soltem os prisioneiros” dos Delfins. Se para o refrão dos Delfins a nossa reacção era:
- Mas quê? Os pedófilos também, Miguel Ângelo? E os traficantes de droga? Então e queres que solte também o serial killer de Santa Comba Dão? OK, é na boa, todos menos o Vale e Azevedo…
Para o refrão desta música de João Pedro Pais a nossa reacção é:
- What the fuck?
João Pedro Pais começa por ordenar que ninguém vá para onde ele vai, deixando um certo secretismo a pairar no ar. A que sítios é que ele se estará a referir? Provavelmente a um sítio especial, onde ele goste de estar sozinho, para reflectir e pensar na vida e em bichos da seda… Ou então a um sítio especial da sua infância… Talvez a casa de Elvas… Não sabemos… A única coisa que sabemos é que ele não quer partilhar esse sítio com ninguém… Novamente em jeito de ordem, João Pedro Pais exige “que ninguém fale de quem falou”. Eu espero que obedeçam mesmo à ordem dele, já que se há mensagem que esta música passa é que o seu autor é menino para nos mandar uma machadada na cabeça caso não lhe obedeçamos… No entanto, não percebo a quem ele se refere, logo não há maneira nenhuma de evitar falar de quem falou… Na dúvida é melhor não falar em ninguém à beira de João Pedro Pais… Aquela ameaça final “nunca digas quem eu sou” podia muito bem ser rematada com algo do género:
- Nunca digas quem eu sou… senão eu enfio-te uma granada na boca…
Ou então:
- Nunca digas quem eu sou… ou eu amarro-te a uma cama de espinhos e obrigo-te a ouvir as minhas músicas durante o resto da tua vida…
Este JP consegue mesmo convencer-nos a obedecê-lo. Depois desta ameaça jamais direi quem ele é… jamais direi que o João Pedro Pais é um músico medíocre, um praticante de luta greco-romana razoável e, possivelmente, um esquizofrénico paranóide… Ooops!

Da próxima vez vou querer toda a tua atenção
Vou esperar que me estendas a mão
E que me deixes cair a seguir.

Nesta quadra JP descreve-nos aquilo que para ele é obter a atenção de uma pessoa. Para João Pedro Pais, o máximo que ele pode esperar de alguém que lhe dedica toda a sua atenção é que ela lhe estenda a mão e o deixe cair a seguir… Terá sido o que o Sr. Embaixador fez quando o, outrora pequeno, João Pedro fez 14 anos?

Mais que uma vez puseste à prova o teu sexto sentido
Depois dás o dito por não dito
Como eu gostava de te compreender...

Que raio de pessoa é esta a quem João Pedro Pais se dirige? Uma pessoa que por mais do que uma vez põe à prova o seu sexto sentido e, como se não bastasse, ainda dá o dito por não dito? Shame on you! Isso não se faz… Das duas uma ou pomos à prova o sexto sentido ou assumimos o que dizemos, mas fazer isto ao rapaz? Depois não admira que ele fique assim… Será que por andar a ouvir João Pedro Pais estou a ficar como ele? Em termos de coerência, este último parágrafo quase que pode equiparar-se a algo que ele diria.

Quero ser, a solução do teu problema
Participando nesse mesmo esquema
Que só tu sabes entender

Eu aqui a dizer mal do JP mas o rapaz afinar só quer resolver o problema da pessoa a quem dirige a música… Se, como tenho vindo a assumir, a pessoa a quem ele dirige a música somos nós ouvintes, eu aproveito para dizer ao João Pedro Pais que grande parte dos meus problemas estariam resolvidos se ganhasse o Euromilhões ou se ele deixasse de cantar… Se queres mesmo participar neste esquema, faz isso, que o meu problema fica resolvido… Atenção, a minha vida não é tão desinteressante que o meu maior problema seja a música do João Pedro Pais. A questão é que eu ponho-me a pensar em que é que o ele poderia contribuir para resolver os meus problemas e, de facto, a única coisa que me vem à cabeça é ele deixar de cantar… Mas não faço assim tanta questão… Só estava a ser bem educado perante tanta solicitude da parte dele em resolver os meus problemas…

Queria ter, só um pouco desse teu talento
Tiro as vogais e ponho os acentos
Estou preparado p'ro que der e vier

João Pedro, não sei a que talento te referes... Se é comigo que estás a falar não me lembro assim de grandes talentos… Eu sou muito forte a beber finos de penalty, a imitar chimpanzés e, quando era miúdo, jogava relativamente bem ao berlinde… Se te estás a referir a alguém mesmo talentoso acho que é a coisa mais inteligente que disseste nesta música. De facto, reconheceres a tua falta de talento demonstra uma grande humildade e honestidade. Reconhecer é o mais difícil, só te falta mesmo dar o passo seguinte: deixar a música. Estou contigo nessa luta! Desejo-te toda a força para conseguires concluir esse desafio profissional com sucesso!
Gostei bastante do verso que ele meteu ali no meio para rimar com talento: “tiro as vogais e ponho os acentos”. Fantástico! É a única coisa que posso dizer! Não consigo imaginar verso mais estúpido acabado em “entos” ou "ento"… Posso dar alguns exemplos:
“Fecho os olhos e conto até quinhentos”
“Fico à espera de termos muitos rebentos” “Corto o cabelo como o Paulo Bento”
“Encho um balão que depois rebento”
De qualquer maneira, nada do que eu possa inventar chega aos calcanhares de “tiro as vogais e ponho os acentos”…

13 comentários:

Anónimo disse...

Estou com lágrimas nos olhos de tanto me rir, juro! Eu nunca ouvi a música, mas agora até tenho curiosidade. Já viste só o estás a ajudar: a fazer publicidade à musica dele!

P.S.-Foste um bocadinho mauzinho com as piadas da casa pia...

reb disse...

:)))))))))))))))))))))))

Também chorei a rir :))))

essa de "tiro as vogais e ponho os acentos" deu-me voltas à cabeça. Não consigo imaginar uma frase em que não haja vogais e os acentos apareçam nas consoantes.

Ficaria uma coisa assim:

`m ^q ´q l dzrt^cm s^t...

p.s. o teclado não permite colocar acentos em cima das consoantes, têm que ficar de lado...

Woody disse...

Não chorei a rir quando ouvi a música mas o absurdo não me passou despercebido... Poderia fazer o mesmo a muitas outras músicas, algumas até de artistas que até vou apreciando como GNR, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma... Enfim, lembro-me de ter feito algo do género no Exame Nacional de Português com um poema do Eugénio de Andrade e de não me ter safado muito bem com isso, foi a minha pior nota... Mas que dá um efeito engraçado, dá... Principalmente quando se goza tanto com a música popular portuguesa e se pega na obra de um artista tido como respeitado.

Inês

Publicidade? Acho que as 3 pessoas que visitam o meu blog diariamente (sendo que 2 delas vêm ao engano por acharem que isto é um clube de fãs do diogo morgado... sim, grande parte das pessoas que aqui vem através de motores de busca é através das palavras digo e morgado)vão desatar a comprar os álbuns do João Pedro Pais...
Reconheço que abusei com as piadas da Casa Pia, mas o que é que se há-de fazer? Foi mais forte do que eu...

reb

Achei mesmo piada ao que acrescentaste... só uma professora de português para se lembrar disso... Se experimentarmos tirar as vogais todas a esta letra de João Pedro Pais talvez fique algo com sentido...

reb disse...

Woody, experimenta lá tirar as vogais todas de uma estrofre ( pode ser o refrão)...mas não te esqueças de colocar montes de acentos :)))

Woody disse...

Como não sou pessoa de fugir de desafios, aqui vai:

D´d pr´x’m´d v’sz, v~` ‘sst´dr ´dt’snt~ à t`´d f’sg´dd´d
‘Sncr`z’lh´dr-m’s n´d t`´d b´dnc´dd´d
F’c´dr n`m c´dnt~ ‘s n´~ m’s m’sx’sr

M´d’s `m´d v’sz, v~` s’sg`’r t~d~s ~s t’s`s c´dm’nh~s
F`g’r f’ng’nd~ q`’s m’s v`s s~rr’nd~
P'r´d t’s f’t´dr q`´dnd~ ‘s` p`d’sr

Q`’sr~ s’sr, p’srs~n´dg’sm d’s b´dnd´d d’ss’snh´dd´d
~nd’s m’s ´dss`m~ n`m´d c’sn´d ‘srr´dd´d
‘S ‘sm q`’s t~d~s m’s vã~ d’ssc~br’r

Q`’sr~ f’c´dr `m p~`c~ m´d’s d’sntr~ d~ t’s` c´ds`l~
F´dç~ d’s c~nt´d, q`’s s~` t’s` ‘s t` és m’s` ´dss`m~
~nd’s m’s ‘sntr’sg~ ‘s t` t’s d´ds ´d c~nh’sc’sr

Q`’s n’ng`’sm v`, ~nd’s v~`
N`nc´d ‘sst`s, ~nd’s ‘sst~`
Q`’s n’ng`~m f´dl’s, d’s q`’sm f´dl~`
N`nc´d d’g´ds q`’sm ‘s` s~`

D´d pr^x’m´d v’sz v~` q`’sr’sr t~d´d ´d t`´d ´dt’snç^~
V~` ‘ssp’sr´dr q`’s m’s ‘sst’snd´ds ´d mã~
‘S q`’s m’s d’s’x’ss c´d’r ´d s’sg`’r

M´d’s q`’s `m´d v’sz p`s’sst’s à pr~v´d ~ t’s` s’sxt~ s’snt’d~
D’sp~’s d^s ~ d’t~ p~r n`~ d’t~
C~m~ ‘s` g~st´dv´d d’s t’s c~mpr’s’snd’sr ...

Q`’sr~ s’sr, ´d s~l`ç^~~ d~ t’s` pr~bl’sm´d
P´drt’c’p´dnd~ n’sss’s m’ssm~ ‘ssq`’sm´d
Q`’s s` t` s´db’ss ‘snt’snd’sr

Q`’sr’´d t’sr, s` `m p~`c~ d’sss’s t’s` t´dl’snt~
T’r~ ´ds v~g´d’s ‘s p~nh~ ~s ´dc’snt~s
‘Sst~` pr’sp´dr´dd~ pr~ q`’s d’sr ‘s v’’sr

Esta é a letra de João Pedro Pais sem vogais e com alguns acentos... Como seria de esperar ganha todo um novo sentido e coerência. Em termos de métrica está também bastante mais aceitável que a original...
Acho que conseguimos descobrir a mensagem subliminar por detrás da música do JPP...

Lu.a disse...

Óh meu Deus, eu que não gosto de João Pedro Pais, até fiquei com pena do homem dpois de ler este post, hihihihi...!! :)

reb disse...

Sabes o que acho, woody? Ficou muito mais bonito. Já viste bem como se tornou melodioso e estruturado?
Estou com o joão pedro pais. Acabem com as vogais! Viva as consoantes com acentos!!
Nem o saramago se lembrou disto :)

Tornamos a nossa língua um pouco eslava, não te parece?
O problema será convencer os palops da necessidade de um novo acordo ortográfico!

Repito, as consoantes são mais estéticas do que as vogais!
Parabéns pela tradução magnífica! :)

reb disse...

Várias vezes aolongo dia me surge o verso do joão pedro pais: " Tiro as vogais e ponho os acentos".

Sei que se trata de um recurso estilístico, linguagem metafórica...mas...o que são para ele as vogais e os acentos??? :))

Terá alguma semelhança com a expressão: "pôr os pontos nos is" ?

Se estivesse a dar este poema nas aulas, não saberia como interpretar esse verso. Talvez os miúdos pudessem dar uma ajuda :)

Woody disse...

lu.a

Percebo que tenhas ficado com pena... Eu arrependi-me um bocado de ter feito aquelas alusões à casa pia, mas não vou tirá-las porque sou contra a censura, mesmo a minha sobre mim próprio. O objectivo não é ser ofensivo, mas compreendo que o possa ser...O que está feito, está feito...

reb

Lol Realmente ficou um bocado eslavo... A mim faz-me lembrar um bocado a linguagem dos orcs do Senhor dos Anéis, pela guturalidade... De facto, as consoantes têm muito mais musicalidade que as vogais.
Os estrangeiros que houvem a língua portuguesa acham que nós só falamos por consoantes, por usarmos muitas vogais mudas... Acho que se tirássemos as vogais de vez, oficializávamos esta situação...

Das duas uma: ou o João Pedro Pais é um génio ou é muito maluco... Como pode ver-se pelo texto inclino-me mais para a segunda hipótese... Se uma professora de português não consegue analisar um simples verso...
Não me parece que seja o pôr os pontos nos is... No contexto da música parece-me mesmo que ele não queria dizer nada com aquilo...

Tari disse...

´nt´´pr´m´´´st´-s´b´m? ´st´p´st ´st´qu´lq´r c´´sa :)
Não percebeste?
É linguagem João Jedro Paissandra.
Tradução:
Então primo. Está-se bem? Este post está qualquer coisa!
Beijokas e continua a fazer-me rir assim.

Woody disse...

Olá prima :)

Ainda bem que traduziste porque ainda não falo muito bem este idioma... Fico contente por teres gostado! Volta sempre!

Beijinhos

Anónimo disse...

E se fossem todos para o caralho que vos foda...

Woody disse...

Anónimo

Não apago o teu comentário porque fiquei, de certo modo, orgulhoso com ele. Finalmente consegui ser insultado. De qualquer maneira desculpa se te ofendi. Era só uma brincadeira.