quinta-feira, 15 de maio de 2008

Esmeralda Superstar


Achei curioso terem decidido doar as receitas do Jesus Cristo Superstar aos pais afectivos da menina Esmeralda. É inevitável estabelecer um paralelismo entre a história desta menina e a história de Jesus. Também em bebé, Jesus foi abandonado pelo seu pai biológico, o que levou a que tivesse que ser adoptado por um pai afectivo, S. José, que lhe deu todo o amor e lições de carpintaria que precisava. Tal como no caso Esmeralda, também o pai biológico de Jesus recorreu à justiça (neste caso a divina) para reaver a custódia do seu filho. Isto permite concluir que se a justiça portuguesa for tão eficiente como a divina só aos 33 anos é que Esmeralda se vai juntar ao seu pai biológico Baltasar... A principal diferença entre os dois casos é que no caso de Jesus não vemos nenhum psicólogo ou pedopsiquiatra a falar do trauma que vai ser para a criança se for retirada aos seus pais afectivos, para ir viver com alguém que não conhece de lado nenhum! É o problema da nossa justiça: ter 2 pesos e duas medidas. Se formos um Baltasar somos tratados de uma maneira, se formos Deus somos tratados de outra... Sonho com uma justiça em que independentemente de sermos Baltasar ou Deus somos tratados da mesma maneira! Ainda por cima a maneira como Deus decidiu recuperar a sua criança é bem mais cruel do que a maneira que Baltasar escolheu, que, apesar de morosa, não envolve nem cruzes, nem coroas de espinhos... Se já assim o pobre Baltasar é fustigado pela opinião pública da maneira que é, queria ver se ele decidisse crucificar a menina Esmeralda... Era crucificado...

11 comentários:

Iris Restolho disse...

Já não o é?!

Mas verdade seja dita que na minha opinião, este Baltasar, não merece recuperar a filha, mas é apenas uma opinião.

Iris Barroso

Woody disse...

É óbvio que é crucificado! E embora não vá tomar a sua defesa acho que as coisas não são tão lineares como estão muitas vezes expostas nos meios de comunicação social... As pessoas estão sempre sedentas de histórias com bons e maus como nas telenovelas mas a realidade é bem mais complexa. De certeza que o que move Baltasar não é um estranho e sádico gosto em ser tratado como um mau da fita...
Iniciativas como a de La Féria vêm, na minha opinião, reforçar esta ideia errada de que há bons e maus da fita, fazendo deste caso real digno de telefilme uma causa nacional... É óbvio que o senhor é livre de apoiar as causas bem entender, no entanto e já que tem sempre casa cheia, porque não o fez de maneira anónima?

Anónimo disse...

O que eu gostava mesmo era que o Benfica oferece-se um cartão de sócio à esmeralda...

no próximo musica no coração vai ser o sargento luis gomes a fazer de anabela, por isso é que ele mandou para lá dinheiro...

Iris Restolho disse...

Mas já não estão a fazer um filme?

Quanto ao anonimato...bem é o que é, não merece comentários, pois esta gente na da faz sem que seja para ser visto, quanto aos bons e maus da fita, há sempre bons e maus, mesmo quando os bons também são maus e os maus também têm um lado bom. Se assim não fosse, não havia interesse nas personagens, certo?

Iris Barroso

Woody disse...

Acho que os bons e os maus neste caso estão muito bem identificados:

bons: pais afectivos, mãe biológica, pedopsiquiatras, La Féria...

maus: Baltasar, justiça...

Se calhar vem daí a minha falta de interesse por esta história, visto que prefiro personagens com uma maior densidade psicológica, gosto mais quando "os bons também são maus e os maus também têm um lado bom"... É filme/musical que não vou ver de certeza!

idadedapedra disse...

essa doação não lembra ao diabo!
Com tanta injustiça neste mundo a atingir tanta gente, pq raio a doação vai para os pais adoptivos da esmeralda?
Eu não me sei pronunciar sobre quem é o bom ou o mau da fita, ou mesmo se há bons só bons e maus só maus. Só sei que quem se lixa com isto tudo é o mexilhão, como sempre...a miúda.

Woody disse...

Sim, é inevitável que, independentemente de quem consideremos bons e maus, no meio desta telenovela a menina acaba por ser a maior vítima... E para isso muito têm contribuído tanto os pais adoptivos como os pais biológicos...

idadedapedra disse...

como resolveria salomão uma situação destas?

Woody disse...

Muito boa pergunta! Não creio que seria muito bem vista uma proposta de cortar a menina a meio... Cortar crianças a meio não é muito bem visto hoje em dia... Confesso que vou ficar a pensar nessa pergunta até ter uma resposta mais satisfatória...

anokas disse...

Neste caso sempre estive a favor de Baltazar, pois este nunca abandonou a criança, nem sequer ele abandonou a mãe da criança...

E o Sr Sargento ou lá o que ele é ficou com muitas manias. Os Pais afectivos da esmeralda estavam tão preocupados com a menina que a fizeram viver em terror Psicológico, a partir do momento que a "mãe", andou em fuga com num qualquer buraco porque a policia andava à sua procura para fazer valer uma ordem de tribunal á qual eles fizeram sempre orelhas moucas em vez de terem tratado da situação através das vias legais, NÃO! usaram por preferência as vias ilegais. Depois andaram a meter da cabeça da miuda que o pai biológico era mau como às cobras para ela não falar com ele quando o visse. Lógico que a cabeça da miúda ficou num nó , escondida e depois dizem que vem o lobo mau ( Baltazar) para sacá-la á força aos pais. Ainda se dizem interessados no Supremo interesse da criança. Não se tiram fácilmente os direitos de um pai biológico neste país , Há regras para tal, e essas não se verificam neste caso.

Fiquei horrorizada quando a comunicação conseguiu transformar um caso como este numa histeria nacional

Anónimo disse...

Excerpto do acórdão do STJ:

«Está provado, neste domínio e em síntese, que:

Impediu que a menor fosse entregue à guarda e aos cuidados do pai, o assistente, ocultado o lugar onde esta se encontrava, chegando a mudar várias vezes de residência, apesar de saber que este tinha juridicamente a sua guarda e direcção, e que lhe incumbia educar e tratar a filha, com quem deveria viver, privando pai e filha da companhia um do outro.

Vem tomando decisões sobre o modo e condições de vida da menor, contra a vontade do seu pai, titular do exercício do poder paternal, a quem compete decidir sobre a vida daquela, sabendo que esta não tem capacidade de decisão.

Impediu a menor de criar vínculo afectivo com o progenitor, sequer de se aproximar dele, nunca tendo dialogado com este, no sentido de entre todos acordarem uma solução que causasse um menor sofrimento a esta, ao ser deslocada de junto de si para junto do pai; impediu-a de conhecer a sua verdadeira identidade, o seu verdadeiro nome, a sua realidade familiar, quer pelo lado do pai, quer pelo lado da mãe. Privou-a de frequentar um infantário, com o consequente convívio com outras crianças, apreender regras de convivência social, adquirir conhecimentos, facultar-lhe um são, harmonioso e sereno desenvolvimento e uma boa educação e formação, sabendo que quanto mais se prolongasse no tempo a recusa de entrega da menor ao pai, retendo-a junto de si, mais penoso seria para esta adaptar-se à sua família e ao contexto e valores de vida desta.
Isto quando logo em 27.2.2003 o pai da menor manifestou ao Ministério Público de Sertã, o desejo de regular o exercício do poder paternal e de ficar com a menor à sua guarda e cuidados e imediatamente procurou a filha, deslocando-se à residência do arguido, logo que conheceu o local onde esta se encontrava aos fins de semana, inúmeras vezes, reclamando a sua filha, conhecê-la e levá-la consigo para a sua residência, o nunca lhe foi permitido, mesmo durante o Processo de Regulação do Poder Paternal, cujo desfecho lhe foi favorável, percorrendo milhares de quilómetros em viatura própria, mensal e em determinadas alturas, semanalmente, quer para ver a filha, quer para que lhe fosse entregue.
O arguido, não obstante a sentença proferida na regulação do poder paternal, recusou-se a entregar a menor.
O pai da menor, quis e quer, desde que o soube ser o pai, assumir-se realmente como tal, não pode, como desejava, dar-lhe os cuidados e atenção de pai, apresentá-la à sua família, inseri-la no seu agregado familiar, quando organizou a sua vida nessa perspectiva. Sendo grande a sua tristeza, angustia e desespero, ao ver-se sucessivamente impedido de ter acesso à respectiva, filha por causa da actuação do arguido e esposa, sentimentos agravados e acentuados após a regulação do poder paternal, quando constatou que o mandado de entrega da menor remetido à PSP, não era cumprido, apesar dos seus esforços. Em consequência o assistente passou a ser uma pessoa reservada e fechada sobre si mesmo, evita falar na sua filha e em toda a situação à sua volta, porque sofre ao ver-se privado, como era seu direito, de acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento da sua filha. Sonha com a menor, imagina a sua voz, os seus gestos, frequentemente chora e pede à companheira para o ajudar por não aguentar mais a espera em ter consigo a menor. Estes danos morais são sofridos de forma paulatina e diariamente, mantendo-se ao presente, agravando-se à medida que o tempo vai decorrendo sem que a sua filha seja encontrada e lhe seja entregue. A situação de afastamento, ocultação e recusa de entrega da menor é de tal modo prolongada, que a parte considerável e essencial da sua infância se está a desenvolver fora da convivência da família biológica desta.»

in http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/5694dd5a9db5ffd0802573cc0044a3e6?OpenDocument