Ao criar o estatuto de estudante a tempo parcial o Governo finalmente regulamenta uma situação que já era mais que comum nas nossas Universidades. Desde há muito tempo que os estudantes eram obrigados a conciliar o seu papel de estudante propriamente dito com o papel de alcoólicos, de praticantes de pandeireta acrobática (modalidade que só se pode praticar com a devida dose de álcool), de mestres de tortura psicológica a jovens imberbes que acabaram de entrar na Universidade… Pouco tempo sobra para estudar, daí que esta medida deva ser veementemente aplaudida! (depreendo que esta medida do Governo tenha a ver com isso é que, como é óbvio, não li a notícia… é que eu não sei ler nem escrever… Só estou no 5.º ano do Ensino Superior… estes posts são ditados por mim ao meu estropiado e repulsivo servo Vladimiro, a quem faltam as duas mãos e um olho e que tem apenas dois dentes… “como é que o Vladimiro escreve sem mãos?” perguntam vocês. Usa o seu nariz… o que é um espectáculo bonito de se ver… no Natal o Vladimiro também desenha postais, que vocês, como pessoas solidárias e altruístas que são vão comprar… Não há nada mais comovente do que ver um aleijadinho como o Vladimiro dar assim a volta por cima e fazer autênticas obras de arte. Nada me deixa mais feliz! Foi com o dinheiro dos postais que eu construí a minha marquise no ano passado… Este ano preciso de uma alcatifa nova por isso toca a comprar!).
Já que estou a falar sobre Ensino Superior aproveito para sair um pouco do tom normal deste blog e falar um pouco sobre a minha experiência pessoal. Como meus fiéis e assíduos leitores merecem saber que eu estou a morrer… É verdade! Como todas as vidas, também a vida académica tem um fim e, neste momento, estou a dar os meus últimos suspiros. A minha morte académica aproxima-se a passos largos.
E, ao contrário da morte propriamente dita, aquela em que vamos finalmente reencontrar-nos com o Criador ou, se formos ateus, em que vamos servir de banquete a larvas e vermes subterrâneos, a morte académica não é um momento de tristeza: não se faz um funeral, ninguém fica propriamente triste, apenas nostálgico… A morte académica celebra-se e celebra-se efusivamente… Para além do último ano ser, já de si, diferente a Semana da Queima das Fitas é o auge da celebração da nossa morte académica. E eu, como moribundo, estou muito nostálgico… Sinto toda a minha vida académica a passar-me pelos olhos. O cliché de quem esteve entre a vida e a morte... Até faz sentido! Não quero morrer!
Não é por querer que a minha vida académica se prolongue, nem pensar nisso! A esperança média de vida académica é de cerca de 5 anos, sendo que é aceitável que alguém demore mais algum tempo. No entanto, é inevitável cruzarmo-nos com indivíduos bastante idosos em termos académicos, que eternizam a sua vida de estudante, acabando por, muitas vezes, ser colegas dos seus próprios filhos… Por isso, quando digo que não estou a gostar nada da minha morte académica, não estou a dizer que gostaria que ela durasse mais um ou dois anos ou três ou vinte. Não! Não quero nem mais um ano de vida académica! Porque acho que só conseguiria desfrutar da minha vida académica enquanto ela faz sentido. Ou seja, quando as coisas seguem o seu ciclo natural e vivemos todas as fases de uma maneira saudável. Neste momento, só tenho que aceitar que estou a morrer e, como toda a gente, vou festejar… Isto implica andar a levar marretadas na cabeça com uma bengala, beber, escrever dedicatórias em fitas como se estivesse numa linha de montagem, beber… Acho que se me eternizasse como estudante as coisas perderiam toda a piada e cairia no ridículo… Tal como não brinco com carrinhos não faria muito sentido estar, daqui a 20 anos, armado em estudante universitário… Cada coisa no seu tempo… E novos tempos estão a chegar… É inevitável que olhe para trás com nostalgia da mesma maneira que olho para a frente com uma grande expectativa! Se as coisas fossem eternas não seriam tão boas (nem tão más) como são. Acho que nem sequer seriam. Qualquer tentativa para nos eternizarmos onde quer que seja, para além de fortuita, será completamente frustrante!
P.S. Para quem só chegou agora a este blog, este não é o tipo de posts mais representativo… Os posts abaixo serão uma melhor ajuda para perceberem se querem adicionar ou não este blog aos favoritos. Este post serve também para justificar uma não tão frequente actualização na próxima semana… É a minha última queima, tenho que saborear a minha última refeição!
Para os meus leitores na China, imagino que não percebam bem o que é a nossa tradição académica. Podem colocar as vossas dúvidas na caixa de comentários e terei todo o prazer em respondê-las. Não se inibam até porque acho que iriam gostar muito da nossa tradição académica. Para vos aguçar o apetite posso dizer-vos que ela envolve humilhação, alienação do indivíduo enquanto ser único, palavras de ordem, confrontos…
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