sábado, 3 de janeiro de 2015

Fim

A partir de hoje, todos os novos textos estarão neste novo site.

Foi uma boa relação com a blogspot, mas chegou o tempo de acabar. Os textos antigos continuarão por aqui.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

7 dicas para sobreviverem ao primeiro emprego


 Graças ao artigo 7 dicas para uma entrevista de emprego de sucesso conseguiram o vosso trabalho de sonho. E agora? Entrar é o mais fácil, o difícil é chegar ao topo. Se seguirem estas dicas não terão qualquer problema 

Nota: ao escrever o parágrafo anterior não sabia quais eram as dicas, só sabia que eram 7 e que vos iam fazer chegar ao topo. Se isto não é brilhantismo...

Dica número 1: Não sejam vocês próprios

Como 95% das população o mais provável é vocês estarem dentro da média. O problema é que estar dentro da média nunca levou ninguém a lado nenhum, muito menos ao topo. Por isso tentem ser outra coisa. Um bom começo é deslocarem-se a uma loja que venda fantasias de Carnaval e encontrarem a vossa nova personalidade: enfermeira sexy, Zorro, chinês, ninja, peixeira... Felizmente não vos faltam opções para serem outra coisa que não a mediocridade que são neste momento.

Dica número 2: Tornem-se amigos do CEO

Quando se sentam na vossa nova secretária a primeira coisa que devem fazer é procurar o e-mail do CEO (geralmente está na lista de contactos do Outlook) e enviarem-lhe uma mensagem. Não se apresentem, ele não quer saber quem vocês são. Sejam enigmáticos. O mail modelo é este:

"Oi! Tudo?  Jokas P.S. Preciso de uma resposta ASAP. Amanhã vou-te enrabar de tal maneira no squash/golf/orgia (sublinhar desporto favorito do CEO em questão) que não te vais sentar durante os próximos 3 anos, meu cabrão/querido (sublinhar modo de tratamento mais adequada à cultura organizacional em questão)."

A partir daí a ligação está criada. Comecem a identificá-lo em todas as vossas publicações no facebook. Enviem todos os vossos e-mails com conhecimento dele (mesmo que ele não os leia isso vai impressionar as pessoas que comunicam consigo). Apareçam no gabinete dele para reuniões (basta levarem um bloco de notas que vos deixam entrar). Façam montagens de fotos em que aparecem a fazer actividades em conjunto em diversos contextos: salão de massagens, cabine do DJ, sessão de desmembramento de cadáver, etc.

Encontrar o caminho para o coração do Big Boss é essencial para o arrancarem sem dó nem piedade e ascenderem ao lugar dele. Podem ser um reles de um estagiário, mas são um estagiário com objectivos.

Dica número 3: Encontrem subordinados

Vocês acabaram de entrar e, como é óbvio, ainda não mandam em ninguém. Mas isso tem que mudar imediatamente. Dentro de uma empresa, as pessoas que não mandam em ninguém estão no fim da cadeia alimentar. E vocês não querem estar no fim da cadeia alimentar. Sabem porquê? Se eu tenho que responder a isto, nem vale a pena lerem o resto do artigo mas aqui vai: porque não querem ser papados. Não querem ser a formiguinha que é aspirada por um reles papa-formigas, nem o papa-formigas que é comido pelo tigre. Vocês querem ser o ser-humano que papa toda a gente: tigres, elefantes, tubarões, outros seres humanos, etc.

Quando digo papar, estou a falar literalmente. Já há empresas em que as pessoas pior classificadas no sistema de avaliação de desempenho são servidas no jantar de Natal. É esse o futuro que vocês querem? Não.

Por isso tratem de arranjar alguém em quem mandar.  Têm que encontrar alguém que possam manipular facilmente e que se vergue perante o vosso domínio sem grande luta. E como encontram essa pessoa? É tão fácil identificá-la que só lhe falta um cartaz a dizer: "Venham dominar-me". E quem é ela? É a pessoa que for mais simpática convosco no primeiro dia. Aquela pessoa que vos pergunta o nome, que vos apresenta ao pessoal, que vos vê perdidos e vos convida para ir almoçar... Essa pessoa está a pedir para ser pisada, é a vossa presa! Para um fraco, essa pessoa é uma potencial amiga, o lado positivo de um dia difícil... Para vocês é alguém vulnerável que vocês têm que dominar. E se acham que isto é demasiado cruel pensem que lhe estão a fazer um favor e a dar-lhe uma lição fundamental: ser uma pessoa simpática,  positiva, calorosa e que procura fazer aquilo que está certo não a leva a lado nenhum. Ela teve muita sorte em encontrar-vos. E, se aprendeu a lição e se se mantiver fiel, até pode ser escolhida para vos acompanhar na vossa escalada implacável em direcção ao poder.

Dica número 4: Não trabalhem.

Num mundo em que ouvimos constantemente que o segredo do sucesso é o trabalho árduo esta dica pode parecer contra-intuitiva. Mas não é. O mundo é estúpido, o trabalho não vos leva a lado NENHUM! O segredo do sucesso não é trabalhar arduamente na prossecução de objectivos, o segredo do sucesso é ter atitude. E o que é que é ter atitude? É trabalhar o mínimo possível e dizer coisas de um modo convicto (ou seja, gesticulando muito e num tom de voz colocado) como "sem trabalho, não vamos a lado nenhum", "a vida só vale a pena se fizermos o que gostamos", "o mal deste país é que depois dos Descobrimentos mais ninguém trabalhou", "doutores temos muitos, não temos é quem faça as coisas" ou "se as pessoas chorassem menos e trabalhassem mais é que era". Assim, fazem os outros sentirem-se culpados por serem uns preguiçosos e passam a imagem de que trabalham para caraças. Com sorte e se forem bons, ainda chegam a gurus do empreendedorismo sem mexerem uma palha.


Dica número 5: Atrevam-se a sonhar.

Nos dias de hoje, o homem sonhador não é muito bem visto. E com razão, porque a maior parte dos sonhos não valem nada: "O meu sonho é mudar o Mundo", "O meu sonho é jogar no Sporting", "O meu sonho é ter uma família", "O meu sonho é ser famoso", etc. Ridículo...

E sabem porque é que estes sonhos não valem nada? Porque não são o vosso sonho. Só o vosso sonho é que importa. E, se chegaram até aqui, o vosso sonho é mandarem nesta merda toda. Sabem aquela frase "Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce" ou lá o que é? Não faz sentido. Para já, se querem chegar a algum lado estão-se bem a cagar para o que Deus quer. Se estão dependentes daquilo que Deus quer nunca vão mandar em nada. Até porque a existir, Deus não deve estar muito interessado em que um sociopata do vosso calibre (e isto em linguagem corporativa é um elogio) chegue ao topo. Fernando Pessoa podia ser um bom alcoólico mas nunca soube o que era trabalhar no implacável mundo empresarial.

Dica número 6: Comprometam-se com os vossos objectivos.

Comprometer-se com os objectivos não é dizer que os vamos cumprir. Toda a gente é capaz de dizer que vai cumprir um objectivo. Eu posso perfeitamente dizer que no próximo ano vou à Lua. Falar é fácil. O que eu tenho é que me comprometer com os objectivos. E o que é isso? É tatuá-los. De preferência em sítios visíveis. Se o vosso objectivo é levarem o Fernando da Contabilidade à ruína tatuem na testa: "Levar o Fernando da Contabilidade à ruína". Vão lembrar-se do vosso objectivo sempre que se olharem ao espelho e vão tornar a vossa posição clara perante toda a sociedade e o próprio Fernando, que não vai deixar de ter pesadelos com o estagiário que tatuou na testa que o vai levar à ruína. A partir do momento em que tatuam na testa que vão arruinar o Fernando, o Fernando está na ruína.

Dica número 7: Se tiverem que fazer uma lista, cheguem ao número 7.

O número 7 é um número mágico: monstro de sete cabeças, fechado a 7 chaves,  7 pecados mortais, CR7, os 7 na Casa Assombrada, etc. Eu quando comecei esta lista não tinha uma única dica para dar, quanto mais 7. Mas comprometi-me a chegar ao 7. E cheguei, mesmo que, aparentemente, só tenha estado a encher chouriços. Se querem chegar ao topo, o vosso número é o 7.

O Mundo é vosso!

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Explorar o altruísmo das pessoas estúpidas


Há uns meses tive que ir ao IPO. Foi a primeira vez que entrei naquele sítio (e até agora a única) e estava distraído à procura da sala onde tinha que ir. Fui parado por uma rapariga com cerca de 12 anos que se colocou à minha frente e me estendeu um papel para eu assinar.

E eu assinei imediatamente.

Primeiro porque o IPO é daqueles sítios onde é muito difícil uma pessoa ser uma besta. Por causa da circunstância em que estão a maior parte das pessoas que lá têm que ir há uma necessidade acrescida de sermos prestáveis.

"Precisam da minha assinatura? Aqui está ela. É preciso mais alguma coisa? Um cafézinho? Uma massagem nas costas? Um órgão? Só estou aqui para ajudar!"

As pessoas que estão no IPO ou têm cancro ou são familiares de alguém com cancro ou estão a ajudar pessoas com cancro. São autênticos heróis. Quem sou eu para recusar uma assinatura num papel que não li a uma rapariga com idade de estar na escola àquela hora?

Segundo, porque eu assino qualquer coisa que me ponham à frente. O sentimento de importância gerado pelo facto de alguém precisar da minha assinatura é mais forte do que eu. Estendam-me um papel que eu assino: autógrafos, petições, testamentos ou certidões em que deixo todos os meus bens terrenos a príncipes nigerianos (espero que Sua Alteza aprecie todos aqueles livros que comprei só porque estavam com desconto!).

Às pessoas que me pedem assinaturas para o que quer que seja só tenho uma coisa a dizer: Obrigado pela vossa não indiferença! Assinar um papel é uma maneira formal de dizer "eu assino, logo existo" e existir é o que andamos todos a fazer aqui, não é? A resposta simplificada a todas as questões que colocamos sobre a nossa existência (Quem sou eu? o que estou aqui a fazer? Para onde vou?) é dada quando assinamos um papel. Em síntese, somos aquilo que assinamos. Pelo menos naquele momento e naquele espaço, estamos e existimos.

(acho que não preciso de admitir que esta filosofia de treta é apenas uma forma inútil de tentar justificar a estupidez do meu acto de assinar um papel que me puseram à frente)

Reparei que a adolescente que me parou era surda. Não lhe fiz nenhum exame, deduzi isto porque só gesticulava. E no cabeçalho do papel que ela me apresentou havia referência a uma associação de surdos. Por isso presumi que era para ajudar essa causa.

Assinei o meu nome. Coloquei o meu e-mail (o do spam, claro!). E estava a acabar de escrever a minha morada (sim, eu escrevi a minha morada naquele papel! Porque a morada é aquele dado que se dá com esta facilidade!). Até que no campo seguinte, que dizia donativo, percebi que me estavam a pedir dinheiro. E as pessoas que tinham assinado antes de mim (partindo do princípio que alguém assinou antes de mim) tinham dado todas para cima de 20€.

E foi aí que as peças começaram a juntar-se na minha cabeça. Percebi que aquilo se calhar era um esquema. Que qualquer pessoa pode imprimir um papel com uma tabela e com o cabeçalho de uma associação inventada. Que a rapariga provavelmente não era surda. E depois deste momento Sherlock Holmes com um atraso mental decidi que não ia dar dinheiro àquela associação. Muito menos os 20€ necessários para não me sentir culpado em relação às pessoas inventadas que assinaram antes de mim.

E comecei a tentar explicar à rapariga "surda", através de língua gestual improvisada, que não tinha dinheiro. E que melhor maneira de explicar que não se tem dinheiro a uma pessoa que anda metida nestes esquemas do que tirar a carteira e apontar para ela?

"Vês? Não me vais conseguir sacar dinheiro através deste esquema. Mas está aqui a minha carteira, caso o teu colega carteirista esteja por perto a vigiar. Deve ter informação suficiente para me poderem roubar a identidade. E algum dinheiro também. Já levas a minha morada e tudo. Já deves ter percebido que eu sou ESTÚPIDO. Queres mais alguma coisa?"

Foi só mais uma jogada de génio da minha parte. Tive a sorte de ser salvo por um senhor que me puxou, me explicou o esquema e me levou ao sítio onde tinha que ir. Achei nojenta a ideia de ir para o IPO fazer este tipo de coisas, mas assumo também a culpa de ter sido um patinho. E até merecia ser roubado pela minha estupidez. Podemos culpar a vítima quando somos a vítima, certo?

Lembrei-me desta história porque ontem estava num restaurante e entrou lá um senhor que pousou em todas as mesas um papel em que era pedida ajuda monetária para ajudar nas despesas de saúde de uma criança inexistente (tinha a foto dessa criança entubada e tudo). Ninguém lhe deu dinheiro.

Tudo isto são esquemas utilizados pela mesma rede: explorar a empatia das pessoas por surdos ou por crianças doentes para sacar algum. A questão é que já não resulta. Mais vale pedirem dinheiro directamente ou usarem pretextos como a venda de pensos ou a arrumação de um carro num estacionamento. Ninguém vai acreditar que estão a correr todos os restaurantes da cidade para financiar os tratamentos de uma criança doente. Mais valia colocarem à nossa frente um papel: "Caso não tenha percebido, estou a pedir dinheiro. Preciso dele." em vez de nos fazerem insultar dentro da nossa cabeça a fotografia de uma criança entubada desconhecida.

E sabe Deus como eu insultei aquela criança...

domingo, 26 de outubro de 2014

Princesas Disney

Tenho uma irmã de cinco anos (eu tenho 29 anos), por isso penso muito em princesas Disney. Compilei aqui algumas questões que me atormentam sobre o tema: 


 O romantismo dos príncipes Disney

A sorte do príncipe da história da Cinderela é que se apaixonou pela única pessoa a calçar aquele número em todo o Reino. Além disso, não consegue identificar a mulher da vida dele pela cara se ela estiver com roupa de pobre. Que tipo impecável! Roupa de pobre está para a Cinderela, como usar óculos está para o Super Homem.

Bastou ouvir a voz da Pequena Sereia para o príncipe se apaixonar. Teve sorte em ser correspondido e em não se ter apaixonado por um CD da Céline Dion.

Quando as mulheres dizem que estão à espera do seu Príncipe Encantado, o que elas querem dizer é que estão à espera de alguém que se apaixone por elas por motivos fúteis?


Princesas Disney e política

Desconheço a opinião das Princesas Disney sobre a governação dos Reinos cujo trono um dia vão herdar. Deviam preocupar-se um pouco mais com política e menos com gajos... O que é que vai fazer a Branca de Neve quando chegar ao poder? Vai pôr os animais a governar para poder continuar a cantar musiquinhas de 5 em 5 minutos?


  
A Subjectividade da beleza

Espelho mágico da Rainha Má, tinhas mesmo que espicaçar dessa maneira uma senhora psicopata com problemas de confiança? Não podias dizer a verdade, que a beleza é uma coisa subjectiva? Ou que, em termos de beleza, uma é o Messi e outra é o Ronaldo? Ou uma coisa mais javardola como "se não fosse a merda de um espelho bidimensional, comia as duas na boa"? Ainda por cima a Rainha Má até é bem jeitosa. Tenho a certeza que muita gente a consideraria a mais bela do Reino. Não precisavas de ser tão taxativo. Era só uma opinião. A Branca de Neve para quem aprecia miúdas de 14 anos também não está má. Mas da maneira que ela se atira ao primeiro príncipe que lhe aparece ou se enfia em camas de anões que não conhece de lado nenhum não chega aos 20 sem 3 cesarianas, alcoólica, viciada em anti-depressivos e a seguir o Tony Carreira para todo o lado. E a Rainha com as suas poções mágicas é bem capaz de chegar aos 60 ainda para as curvas.

Moral implícita da história: Muitos problemas que são resolvidos com caçadores podiam muito bem ser resolvidos com um bocadinho de bom senso.

O capitalismo das Lulas-vampiro, segundo Matt Taibbi



Título: Griftopia: Bubble Machines, Vampire Squids, and the Long Con That Is Breaking America

Autor: Matt Taibbi Editora: Spiegel & Grau

Data de Publicação: Novembro, 2010

Língua: Inglesa

“Griftopia: Bubble Machines, Vampire Squids, and the Long Con That Is Breaking America” (o que, em português, quer dizer qualquer coisa como “A Utopia dos Aldrabões: Máquinas de Bolhas, Lulas-vampiro, e a Grande Golpada que está a destruir a América”) é o último livro [1] do jornalista da secção de política da Rolling Stone, Matt Taibbi. Publicado em Novembro de 2010 pela Editora Spiegel & Grau, proporciona uma perspectiva arrojada e provocatória sobre as causas e os episódios que conduziram à crise financeira de 2008, assim como as suas consequências.

Matt Taibbi, que chegou a jogar basquetebol na liga da Mongólia, tem vindo a dedicar a sua atenção a Wall Street escrevendo artigos demolidores sobre o tema. E demolidores é dizer pouco. De facto, Matt Taibbi é um dos maiores críticos do clima de impunidade que se vive no sector financeiro e do impacto devastador que a “mão invisível” dos mercados tem na economia mundial. Mais do que relatos sobre o cinzento mundo da alta finança, as suas reportagens, ao bom estilo do jornalismo gonzo, parecem histórias de gangsters. Mas com algumas diferenças relevantes. Nestas histórias de gangsters, os mafiosos não só não são presos ou mortos em tiroteios, como recebem uma quantidade absurda de dinheiro dos contribuintes e são escolhidos por quem os devia punir para resolver os problemas que causaram. O que ao nível das verdadeiras histórias de gangsters é o equivalente a nomear Tony Soprano para Director do FBI ou Tony Montana para Ministro da Defesa.

Uma boa compreensão da actual crise socioeconómica não dispensa o recuo à crise financeira de 2007-2008, tarefa nada fácil, dada a complexidade do tema. Talvez por não ser formado em Economia, Matt Taibbi consegue explicar o funcionamento da fábrica de bolhas de Wall Street, todo o processo de desregulação da economia que levou à crise e as bases políticas para essas decisões, de um modo acessível, partindo sempre de casos concretos em que essas decisões afectam a vida do cidadão comum. A tónica do livro é predominantemente pessimista e faz-nos perceber que pouco mudou desde 2008 e o que mudou não foi para melhor: os bancos de investimento que provocaram a crise estão ainda mais poderosos e a população em geral está cada vez mais pobre. Se muitos esperavam um ressurgimento da esquerda e uma resposta keynesiana aos problemas criados por esta crise, o que aconteceu foi precisamente o contrário (austeridade, austeridade, austeridade e… austeridade). É pois um depoimento esclarecedor, sério e bem fundamentado que Matt Taibbi faz sobre a maior crise desde a Grande Depressão, uma realidade extremamente complexa que a maior parte das vezes é analisada segundo slogans enganosos e redutores como “vivemos acima das nossas possibilidades” ou “a culpa é do Estado Social” e gráficos do Medina Carreira.

Para além do interesse da história, o livro de Matt Taibbi distingue-se pela sua qualidade literária. O estilo de Taibbi é peculiar, de quem está verdadeiramente revoltado com o que aconteceu, recorrendo mesmo ao uso de palavrões ou insultos. Atribui, por exemplo, ao ex-Presidente da Reserva Federal Alan Greenspan o título de “Maior escroque, parvalhão, inútil, incompetente, mentecapto, oportunista, ectoplasma, baquibuzuque, espécie de estrato de ornitorrinco enlatado do Universo”. Na verdade Taibbi chama-lhe apenas “asshole” mas não quis perder esta oportunidade de, também eu, brindar o desprezível e vaidoso economista com alguns insultos em português. É difícil a incompetência, irresponsabilidade, desonestidade e preconceito ideológico deste político disfarçado de escriturário não despertar o lado Capitão Haddock que há em todos nós. Afinal foi ele o grande responsável político pelas medidas de desregulação do sistema financeiro implementadas desde que tomou posse como Presidente da Reserva Federal, ainda durante a administração Reagan. Como por exemplo a grande pressão que exerceu para impedir a regulação das derivativas (os complexos instrumentos matemáticos que foram utilizados para mascarar muitas das aldrabices levadas a cabo em Wall Street).

São constantes as referências à cultura pop ao longo de todo o livro (ou não se tratasse de um jornalista da Rolling Stone [2]) e apresenta um humor bastante apurado. Tudo isto sem que se possa pôr em causa a validade dos factos que relata, abordando questões como a filosofia perversa de Ayn Rand, a grande referência intelectual da direita americana e, porque não dizê-lo, dos neoliberais em geral, conhecida pela sua eloquente defesa do primado do individualismo e da ganância como qualidade necessária para a evolução da sociedade (uma espécie de homo psicopatis que, de maldade em maldade, nos leva a um paraíso sem estado e em que todos somos bestas egoístas, ainda que milionárias); da especulação em commodities e da transferência de recursos entre a economia real e o mundo financeiro que esta origina; da bolha do subprime; da forma absurda como o Tea Party falhou o alvo da sua contestação; dos aspectos criticáveis da reforma do Sistema de Saúde encetada pelo Presidente Obama e do papel da Goldman Sachs em quase tudo o que de mau se passa no Mundo.

Vale a pena salientar a questão da Goldman Sachs, pelo destaque que deu a Taibbi. Se hoje é opinião mainstream que a Goldman Sachs (escola que já formou gente tão ilustre como Dr. António Borges [3], Dr. Carlos Moedas, Hank Paulson, Lucas Papademos, Mario Draghi ou Mario Monti) é um ninho de bandidos e a imagem de quase tudo o que correu mal com este capitalismo, quando Matt Taibbi a descreveu de forma brilhante como “uma gigantesca lula-vampiro enrolada na cara da humanidade, com o seu funil de sangue implacavelmente chafurdando em busca de tudo o que possa cheirar a dinheiro” muitos economistas sérios saíram em defesa do famoso banco de investimento, assumindo-se ultrajados pelo insulto feito a uma instituição tão respeitada e que fez mais pelo Mundo do que a Cruz Vermelha, os Médicos Sem Fronteiras, a Greenpeace, o Homem Aranha e o Inspector Gadget todos juntos. Acontece que hoje o papel pernicioso da Goldman Sachs na economia é consensual (até os próprios o admitem e parecem apreciar a sua nova imagem de arqui-inimigos da decência) e a imagem da lula-vampiro colou-se de tal maneira à sua marca que é difícil alguém nos media norte-americanos referir-se à Goldman Sachs sem se lembrar desta brilhante metáfora. Ao ser dos primeiros a apontar o dedo à Goldman Sachs, Matt Taibbi conseguiu uma pequena vitória sobre o capitalismo selvagem, que o ajudou a posicionar-se como uma das mais importantes referências intelectuais do movimento Occupy Wall Street. O livro de Taibbi não está traduzido em português e tanto quanto sei não está previsto que saia em Portugal. No entanto, é possível adquiri-lo na sua versão original a um preço bastante acessível em qualquer livraria on line, quer em papel quer em ebook. Além disso, disponibilizo o meu exemplar do livro a todos os que manifestem interesse na sua leitura. Os seus artigos na Rolling Stone estão todos disponíveis gratuitamente no site desta revista (www.rollingstone.com) e o seu blogue é [4] frequentemente actualizado (http://www.rollingstone.com/politics/blogs/taibblog) [5].

[1] Depois da publicação deste texto, Matt Taibbi lançou o também interessante "The Divide: American Injustice in the Age of the Wealth Gap".
[2] Depois da publicação deste texto Matt Taibbi abandonou a Rolling Stone e está à frente da criação de uma nova revista on line centrada sobre o tema da corrupção financeira, inserida no grupo editorial First Look Media fundado por Glen Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill com o patrocínio do fundador do eBay Pierre Omidyar.
[3] Depois da publicação deste texto, António Borges morreu. Este tipo de pessoas também morre.
[4] Era...
[5]  Passou-se tanta coisa desde que este texto foi escrito. O tempo passa, as coisas mudam...

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

7 dicas infalíveis para uma entrevista de emprego de sucesso


Está desempregado e não sabe porquê. Eu explico-lhe a razão: não seguiu estas dicas. Aprenda-as, aplique-as e consiga o emprego dos seus sonhos. Já!


 Seja excêntrico

Os empregadores querem alguém que se destaque. O que não faltam são pessoas convencionais que usam fato e gravata e que entregam CV's em papel. Procure destacar-se pela diferença. Leve um coador de esparguete na cabeça e procure referir sempre que possível a sua devoção pelo monstro do esparguete. Escreva o seu CV numa lápide de mármore e entregue-o com um carrinho de mão. Apareça todo nu como forma de provar que não tem tabus  (eles vão apreciar a honestidade).



Procure informar-se sobre a empresa

O básico que todas as pessoas convencionais fazem antes de uma entrevista é consultarem o site da empresa. Mas você não pode ser convencional. Tente ir mais longe. Procure saber TUDO sobre as pessoas que o vão entrevistar. Para isso, contrate detectives privados e, caso não tenha meios para tal, encete você próprio uma perseguição 24/24 sobre essas pessoas. Recolha todas as informações que conseguir. O empregador ficará agradado quando a meio da entrevista referir informações avulsas sobre a sua vida privada: nome dos filhos, cereais preferidos dos filhos, marca de papel higiénico, casos extra-conjugais, fetiches, etc. Depois desta prova de dedicação, não vão desperdiçar o talento de uma pessoa que pode saber informações comprometedoras sobre eles.




Seja genuíno

Os empregadores apreciam genuinidade. Por isso não se acanhe. Chore, esperneie, desabafe, insulte os seus inimigos, vomite, seja possuído por demónios... Mais do que pessoas que o estão a entrevistar, eles são seus amigos. Aproveite o momento para um pouco de psicoterapia. Eles vão apreciar.



Esteja bem-disposto

Porque foi por isso que Deus inventou as drogas. Quem é que gosta daquele amigo careta que recusa beber porque "tem que levar o carro em segurança"? Numa entrevista de emprego é a mesma coisa. Quem é que vai preferir o candidato choninhas sóbrio em detrimento do candidato bêbado que nem um cacho que se atira a toda a gente? Acho que a resposta é óbvia.


Seja dominante

Ninguém aprecia pessoas fracas. Mostre-se ambicioso e forte e não tenha vergonha de mostrar o seu perfil alfa. Diga coisas do género:

"Quando mandar em si, esmago-o que nem uma barata."

"Quando for o dono disto tudo, colocarei a cabeça de cada um dos meus inimigos à porta da empresa."

"Ao pé de mim, Átila, o Huno, era um pequeno pónei."

"Se já tirei vidas humanas? Não respondo."

"Normalmente, dou-me bem com toda a gente."


Mostre os seus talentos

Não tenha vergonha de mostrar aquilo em que é bom, mesmo que não tenha grande relação com a função em causa. Se o seu talento for malabarismo, sapateado, acrobacias de Segway, ventriloquismo, origami de pénis ou queimar insectos com lupa vá preparado para uma demonstração.





Mantenha uma boa postura corporal

Hoje em dia os empregadores procuram pessoas flexíveis. Faça alongamentos antes da entrevista para que a sua postura corporal mostre flexibilidade. Impressione os entrevistadores com espargatas, cambalhotas, mortais encarpados e simulações de todas as posições do Kamasutra com material de escritório. Seja o trabalhador flexível que eles procuram.

O Mundo é seu!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Do casamento do Clooney à minha "relação" com Oliver Stone

O George Clooney casou-se. E, aparentemente, isso é um facto digno de ser noticiado nos telejornais portugueses e neste blog. Porque é importante. Quando vemos um filme do George Clooney é importante estarmos a par da vida privada dele. Não conseguimos apreciar devidamente o seu desempenho como árvore ou pirata se não soubermos com quem é que ele dorme.

O Clooney fechou Veneza para o seu casamento e eu fiquei aliviado por não ter sido convidado. Não sei qual é o mínimo que tem que se dar de prenda num casamento que implica o encerramento de uma cidade europeia de grande dimensão mas deve estar muito para além das minhas possibilidades. Mesmo em casamentos normais, duvido que aquilo que ofereço dê para pagar a quantidade de leitão que eu enfardo.

E nunca fui a um casamento em que fechassem uma cidade ou até uma freguesia! Os casamentos a que eu vou não implicam que as pessoas que moram à volta deixem de fazer a sua vida normal (excepto num casamento em que um tio meu bebeu tanto que começou a vandalizar a casa do vizinho, mas mesmo isto não se compara com o transtorno por que passaram os habitantes de Veneza).

Se chegasse àquele casamento com 100 euros em meu nome e da minha acompanhante para dar ao George não ia sentir-me à vontade para comer mais do que um camarão nas entradas. E ninguém vai a um casamento para passar fome. Por isso, mesmo que fosse convidado, provavelmente não iria.

Mas na verdade, nunca esperei ser convidado. Não sou como aquelas pessoas que ficam tristes quando as celebridades de quem são fãs se casam e felizes quando se divorciam.

O que é absurdo e torna ainda mais absurdo o tom com que estas "notícias" são dadas: "o solteirão mais cobiçado do mundo vai casar-se". Como quem diz "Lamento, minhas senhoras, o George já não está disponível. Reduziram drasticamente as hipóteses de (1) se cruzarem com ele no Lidl mais próximo da sua residência e (2) ele se apaixonar perdidamente por vocês. Mas a esperança é a última a morrer!".

Não, a esperança não é a última a morrer. A esperança deve morrer num prazo razoável (por exemplo, bem antes de decidirmos aparecer em frente de um júri que avalia o nosso talento inexistente para as cantorias). Para quem gosta de números, deve ser a 47.ª coisa a morrer. Se morrerem 46 coisas e continuarmos a ter esperança, é porque vivemos num Mundo de fantasia e convivemos bem com 46 cadáveres à nossa volta. O que não são características aceitáveis num ser humano decente. Vão ter uma vida mais tranquila se aceitarem o simples facto de que a esperança não é a última a morrer e de que dificilmente vão casar-se com uma estrela de Hollywood.

Para dar um exemplo, o mais próximo que eu estive de uma estrela de Hollywood foi na sexta feira (26 de Setembro), quando o realizador Oliver Stone veio dar uma conferência a dois passos de minha casa, literalmente. Se eu estivesse a tentar seduzi-lo seria a minha janela de oportunidade. Mudava a minha vida. Casava-me com um grande realizador de Hollywood com uma certa idade, tinha hipótese de entrar em alguns filmes e, em pouco tempo, herdava uns milhões de euros.

Por mais que eu estivesse determinado em ser o gold digger do Oliver Stone (não estava!), havia demasiados obstáculos para o engatar naquele contexto. Primeiro, nem eu, nem ele somos gays. Uma relação, por mais interesseira que seja, dificilmente funcionará nestes moldes. Segundo, antes de olhar para mim, mesmo naquela sala quase vazia, havia pessoas muito mais interessantes do que eu (o presidente da Câmara do Porto, por exemplo). Terceiro, não havia a mínima hipótese de falar com ele o tempo suficiente para qualquer pick up line fazer efeito. O Presidente da Câmara do Porto Rui Moreira esteve bem mais perto de o engatar do que eu. E, que eu saiba, também não conseguiu. Se conseguisse, não se falava de outra coisa neste país.

É esquisito que eu esteja a pôr a hipótese de engatar o Oliver Stone porque mesmo que naquele momento todas as pessoas do Mundo desaparecessem e eu ficasse sozinho neste planeta com o Oliver Stone jamais teria uma relação amorosa com ele. É que nem o argumento da continuação da espécie se aplica neste caso. Podíamos tornar-nos amigos, mas não mais do que isso. O momento em que eu me visse sozinho no Mundo com um sexagenário seria o momento em que eu me tornaria celibatário. Arrumava de vez com a ideia de voltar a fazer sexo.

Esta história pode parecer ridícula (e é), mas é ilustradora das probabilidades de uma pessoa normal vir a ter um relacionamento com uma estrela de Hollywood. A vida não é uma comédia romântica e a Julia Roberts não vai entrar na nossa livraria de bairro.

E acho que vou parar esta estupidez por aqui.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Idiotamobile

No outro dia vi um carro com um autocolante a dizer "Gostosão a bordo. O que é uma excelente alternativa a uma tatuagem na testa a dizer "Sou uma besta". A mensagem é a mesma!

É que este é o tipo de carro com o qual convém ter muito cuidado já que todos os espelhos retrovisores devem estar virados para o idiota que vai a conduzir. Afinal um minuto a olhar para a estrada é menos um minuto a admirar o quanto ele próprio é um gostosão. Se o autocolante "Bebé a bordo" nos incentiva a sermos cautelosos e a conduzirmos de forma a reduzir a probabilidade de nos tornarmos assassinos de bebés (apesar de transformar qualquer carro numa carrinha de gelados para pedófilos), o autocolante "Gostosão a bordo" incentiva-nos a aderir a uma missão kamikaze contra indivíduos que se auto-intitulam "gostosões". Transforma uma atitude extremamente irresponsável como conduzir sob o efeito de álcool numa missão para salvar a Humanidade.

O que me incomoda não é a autoconfiança em si, é a existência do autocolante e tudo o que isso implica. Mesmo que seja um presente (o que, sendo a melhor das hipóteses, nos faz tomar consciência de que vivemos num Mundo em que alguém considera um autocolante destes um bom presente como alternativa a um molho de bróculos ou a um CD virgem, por exemplo), houve um momento em que esta pessoa tomou a decisão de espalhar pelo Mundo a opinião favorável que tem de si própria em português do Brasil. Abandonou o que estava a fazer e dirigiu-se ao seu carro (porque colar autocolantes no carro sempre foi a maneira mais eficaz de comunicar a nossa mensagem ao Mundo). E enquanto colava o seu autocolantezinho estúpido com todo o cuidado, garantindo que não ficam bolhinhas de ar ou que não está torto ou que este fica no sítio mais visível possível, esta pessoa estava a assumir um compromisso grande demais para com a ideia de que se acha um gostosão. Uma coisa é, num dia bom, passar pelo espelho e pensar fugazmente "Até tenho bom aspecto". Nunca me aconteceu mas é perfeitamente aceitável. Outra coisa é assumir uma empreitada de mais de 5 minutos a celebrar publicamente o seu bom aspecto físico. É o equivalente a alguém tomar posse como Presidente da Comissão Organizadora do seu próprio jantar de homenagem ou do seu próprio Clube de fãs. Neste caso não é o facto de a pessoa se achar gostosa que me incomoda é o ponto a que essa pessoa chega para divulgar essa ideia.

O único lado positivo do autocolante é que pode vir a ser um acto de altruísmo em relação aos bombeiros que, em caso de acidente, não se vão sentir tão culpados por não o conseguirem desencarcerar a tempo. Mas se o objectivo for este, um galhardete das Waffen SS funciona melhor (dar a entender a estas pessoas que têm de lidar com a morte todos os dias que existia uma forte possibilidade de a pessoa que acabaram de perder poder vir a ser um novo Hitler é uma maneira de as fazer sentir um pouco melhor).

Se querem ser verdadeiramente gostosões, mas humildes, gostem da página deste blog no facebook (uma rede social conhecida pela sua falta de tolerância por gente egocêntrica). 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

6 regras para descobrir se encontrou o(a) tal

Está numa relação mas não sabe se essa pessoa é a tal? Essa dúvida é inquietante porque sempre achou que ia encontrar a sua alma gémea. Só que num Mundo de 7 mil milhões de pessoas isso é como encontrar uma agulha em mil palheiros e o tempo não chega para tudo (pelo menos se, pelo meio, ainda se der ao trabalho de ler blogs idiotas). Ficam aqui as 6 regras que lhe vão facilitar a tarefa de identificação do(a) tal.


Regra número 1: Essa pessoa gosta de si pelo que você é.

Sabe que encontrou aquela pessoa especial se ela gostar de si pelo que você é e não por características acessórias como o seu dinheiro, estatuto, aspecto físico ou personalidade. A única maneira de verificar que alguém gosta de si pelo que você é é batendo no fundo: abandone o emprego, descure a higiene, esqueça hábitos saudáveis como exercício físico frequente ou uma alimentação equilibrada, meta-se na droga, pratique alguns crimes, comporte-se como uma besta. Se, mesmo assim, a outra pessoa continuar consigo é porque ela é a tal. Se ela o abandonar é porque, na verdade, não gostava o suficiente de si e o melhor é mesmo partir para outra. Há muito peixe no mar. Mas trate da sua vida primeiro. Isso não é maneira de se apresentar em lado nenhum...

 

Regra número 2: Essa pessoa afunda quando é atirada para dentro de um lago.

No tempo da Inquisição um dos métodos utilizados para verificar se uma pessoa era ou não uma bruxa era amarrando-a e atirando-a a um lago: se ela flutuasse era bruxa, se ela fosse ao fundo não era bruxa. Vários estudos feitos por algumas Universidades de prestígio concluem que este método utilizado pela Inquisição é um dos métodos mais eficazes para descobrir se a pessoa com quem mantêm uma relação é a tal. Se ela se mantiver à superfície, provavelmente não é a tal. Se ela for ao fundo pode ir festejando porque trata-se de alguém muito especial e submersível.


Regra número 3: Essa pessoa respeita as leis da física.

Algo de muito estranho se passa se a pessoa com quem mantêm uma relação for capaz de voar, atravessar paredes ou tornar-se translúcida. Obedecer às leis da física clássica e quântica é um aspecto essencial para a sobrevivência às exigências dos dias de hoje. As histórias de super-heróis são muito bonitas mas são as leis da física que nos salvam do risco de mantermos uma relação com uma pessoa que é constituída por anti-matéria e que pode explodir ao mínimo toque (o que torna o sexo uma actividade ainda mais arriscada e complexa, se é difícil encontrar o ponto G, imagine-se o bosão de Higgs).
Se o seu parceiro não obedecer às leis da física, provavelmente não é o tal. Esqueça piqueniques, passeios e noites tórridas de amor, deverá entregá-lo imediatamente às autoridades competentes com o fim de o poderem estudar e contribuir para o avanço da ciência. Quem sabe se, de um relacionamento falhado, surge um novo tratamento para a psoríase?

Regra número 4: Essa pessoa partilha a mesma orientação sexual consigo.

Se estiver numa relação heterossexual em que pelo menos uma das pessoas é homossexual, provavelmente não foram feitos um para o outro. O mesmo funciona numa relação homossexual em que pelo menos uma das pessoas é heterossexual. Se a sua reacção a este parágrafo foi "Ah! Com que então o problema era este! Como é que não tinha percebido que uma relação amorosa entre dois homens heterossexuais nunca podia dar certo?", esteja descansado. Não é o único idiota que ainda não encontrou a alma gémea. Não estou aqui para o julgar, mas sim, estou a dizer que você é um idiota... Insulto reforçado por vir de alguém que se deu ao trabalho de inventar 7 regras absurdas e sem fundamento para saber se encontrou o(a) tal. Devia fazê-lo pensar... Mas já perdemos demasiado tempo com idiotas. Passemos à regra seguinte.


Regra número 5: Essa pessoa não vomita sempre que o vê.

É socialmente aceitável regurgitar os conteúdos do nosso estômago quando contemplamos alguém de quem não gostamos ou temos conhecimento de uma notícia que nos perturba (fome em África, guerras, casamentos reais, etc.). É perfeitamente natural! Acontece-me todos os dias cruzar-me com pessoas que vomitam quando me vêem. É a opinião delas e têm direito a expressá-la como entenderem, mesmo que isso implique uma conta demasiado elevada na lavandaria. Não é suposto é a pessoa mais especial da sua vida vomitar quando o vê (pelo menos até ao 2.º ano da relação). Uma náusea, uma breve indisposição ou diarreia é normal e até é saudável numa relação, mas se vomitar sempre que o vê é porque não foram feitos um para o outro. Procure alguém que não fique agoniado consigo.


Regra número 6: Essa pessoa sabe responder às suas questões.

É importante que essa pessoa o complete. O que isso quer dizer é que deve saber tudo o que você não saiba. Tem, por isso, que saber responder a todas as questões cujas respostas desconhece, da mesma maneira que você tem que saber responder a todas as questões que ele desconhece. Por exemplo, se um de vocês não sabe qual é o sentido da vida, o outro tem que saber. Ou, se um de vocês precisar de saber qual o resultado de 7543x2343 sem recorrer a calculadora o outro tem que saber responder. Ou enunciar sinteticamente as leis de Newton, as principais vitórias dos Aliados na 2.ª Guerra Mundial ou os melhores marcadores do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão de futebol. Se essa pessoa não o completar desta maneira, não perca mais tempo com ela. Estar numa relação saudável é nunca mais precisar de procurar coisas na Wikipedia. Mas não se preocupe, a sua alma gémea anda por aí e sabe tudo o que você não sabe.

Se a pessoa com quem mantêm uma relação obedece a pelo menos 5 destas regras, tenho que lhe dar os parabéns por ter encontrado o(a) tal. Trate essa pessoa como ela merece e sejam felizes! 

Mesmo que não tenha encontrado o amor da sua vida, pode sempre gostar da minha página no facebook. É um substituto aceitável. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Onde arranjar banha da cobra de qualidade hoje em dia? - 4 exemplos da decadência da arte de bem aldrabar

Nos dias de hoje é cada vez mais difícil encontrar sítios de confiança onde comprar banha da cobra de qualidade.

Se calhar são as cobras que andam a emagrecer (provavelmente graças a uma dieta que é ela própria banha da cobra mas que ainda assim tem um efeito placebo).

É revoltante que a banha da cobra que anda por aí é tão claramente banha da cobra que é quase impossível sermos enganados. Segue-se uma lista de alguns dos exemplos mais estúpidos de banha da cobra que andam por aí:

Comprimidos brasileiros 


O que é que fazem? Não sei. Conheço apenas a sua nacionalidade e o facto de serem apresentados com a imagem de um rabo de mulher em boa forma, ao som de samba. E é só isto. Nem se dão ao trabalho de colocar um "cientista" de bata a emprestar a sua credibilidade (conferida principalmente pelo uso de bata) à substância, nem uma fotografia de "antes" e "depois", nem sequer um mau actor/celebridade em decadência a atestar a qualidade do produto. É que nem os podemos acusar de publicidade enganosa, já que tanto quanto sabemos os "comprimidos brasileiros" podem ser apenas rebuçados para a tosse ou, visto que o rabo é a sua imagem de apresentação, medicamentos para a flatulência.

Pulseiras PowerBalance TM


 Supostamente serviam para melhorar o nosso "equilíbrio" e foram vendidas aos milhões. Havia celebridades a usá-las (Cristiano Ronaldo, Eládio Clímaco, Cavaco Silva, Ruy de Carvalho, Fernando Pessoa, etc.). E, por isso, toda a gente queria uma! Têm pelo menos o mérito de se terem dado ao trabalho de reunir pseudociência para a apresentar: os iões de não sei quantos fabricados por cientistas da NASA (esses profissionais que de dia lançam satélites para o espaço e à noite, revoltados por verem tantas pessoas aos trambolhões pela rua, lutam incansavelmente contra esse flagelo que é a falta de equilíbrio). Só não percebo como é que depois destas pulseiras não arranjámos todos emprego como equilibristas no Cirque du Soleil.

Feiticeiros africanos 


São os meus preferidos! Principalmente pela abrangência da sua actuação: saúde, amor, dinheiro, sucesso, ciúme, cancro, constipações, conflito israelo-palestiniano. Resolvem tudo! Autênticos moços de biscate da banha da cobra. Mas serem generalistas é, também, a sua fraqueza. Duvido que ganhem o suficiente para pagar os tinteiros da impressora que utilizam para imprimir os flyers que colocam nos limpa pára-brisas dos carros. Nunca ninguém, ao ler um daqueles papelinhos manhosos escritos em Comic Sans MS, terá pensado:

"Perfeito! Vem mesmo a calhar... É da maneira que trato deste cancro do pâncreas e ainda lanço um feitiço maléfico ao meu chefe! E como já não preciso de ir à sessão de quimioterapia para a semana posso começar a dedicar-me a sério à minha nova carreira de equilibrista que começou há 15 minutos quando comprei esta pulseira PowerBalanceTM nos chineses."

É que o esquema é tão mau que nem os podemos acusar de aproveitarem o desespero das pessoas para ganharem dinheiro. É óbvio que uma pessoa desesperada está mais vulnerável a estas coisas, mas esta abordagem é tão absurda que chega a ser ofensiva! Trata-se muito simplesmente de um desperdício do sofrimento das pessoas, como diriam os pastores da IURD. Esses sim, autênticos especialistas na transformação de sofrimento alheio  em templos sumptuosos e orgias com prostitutas.

Gurus do Empreendedorismo 

São a nova moda no mundo da banha da cobra. Utilizando chavões como "Faça o seu negócio", "Torne-se rico", "Realize os seus sonhos" e "Seja o CEO de si próprio" tentam convencer-nos que o nosso sucesso só depende de nós. No fundo, a filosofia do empreendedorismo trata-se muito simplesmente de alguém ganancioso utilizar a ganância e/ou desespero de outras pessoas contra elas próprias (com o efeito pernicioso de as fazer sentir culpadas pelo seu próprio insucesso, se o sucesso depende delas, também o fracasso). Eu diria que nunca, NUNCA, um grande empreendedor terá ido a uma conferência de empreendedorismo. Vou mais longe, diria que há uma correlação positiva entre frequentar conferências de empreendedorismo e insucesso. Algum dia o Steve Jobs seguiria os 7 passos para o sucesso delineados com afinco por um destes grilos falantes? E aquelas dinâmicas e grupo? Quantas grandes ideias terão surgido depois de alguém mostrar que confia nos outros deixando-se cair nos braços de um grupo de desconhecidos?

"EUREKA! Agora que confio nos outros já posso mudar o Mundo através desta minha grande invenção que é... deixa-me pensar... o carro movido a água do mar! Como é que não tinha pensado nisto antes?"

Para além de a indústria petrolífera nunca permitir isto (confiem em mim, eu sei do que falo, tenho um carro movido a Chocapic encostado na garagem), as grandes ideias não surgem assim. É uma simplificação de um processo complexo que envolve trabalho, criatividade, muita sorte e, espantemo-nos, toda uma base de conhecimento e de investimento prévia facilitada pelo Estado (a némesis dos empreendedores). Vamos ser sérios, qual a probabilidade de sucesso de alguém que ambicione verdadeiramente ser o próximo Bill Gates? Bem inferior à de um cromo dos Ídolos que ambicione ser o próximo Mick Jagger! Mais vale acreditar com muita força que vai ganhar o Euromilhões. Pode ser que o consiga, não por acreditar com muita força mas porque teve uma sorte descomunal.

Uma economia sustentável não vive do empreendedorismo, mas falar de economia não motiva as pessoas. É chato e pouco convincente, principalmente quando não se gesticula e fala muito alto e não se contam histórias de "sucesso" (post it, descobrimentos, etc.) e não se utilizam posters em que modelos masculinos de fato e gravata voam sorridentes como Super Homens.


Gostem da minha página no facebook se querem garantir a felicidade eterna (basta acreditarem que isso vai acontecer).

segunda-feira, 17 de março de 2014

O dia-a-dia de um eurodeputado discreto

Nuno Melo foi considerado um eurodeputado "muito discreto" na avaliação que o Público fez de alguns eurodeputados, o que é um excelente eufemismo para "acorda ressacado às duas da tarde, vai ao facebook, entretanto passaram-se 3 horas, liga ao Dr. Paulo Portas para lhe dizer "o sôtor é o maior" ao que ele responde "tu também és o maior, mas a seguir a mim e ao Pedro Mota Soares", desliga o telemóvel, pensa "não te ponhas fino não, que não é por seres o maior estadista que este Mundo já viu que aqui o Brutus do Minho não te espeta uma facada no lombo que te põe a guinchar que nem o João Almeida num concerto do Justin Bieber", vai ao Parlamento Europeu, está fechado, vai ao cabeleireiro, vai à televisão dizer que Portugal estava na bancarrota graças a um TGV imaginário e agora já não está, passa por um milésimo de segundo de questionamento existencial e pergunta angustiado ao seu reflexo no espelho "Mas o que é que eu ando aqui a fazer? Qual o sentido disto?", percebe o sentido da sua existência ao contemplar o cabelo espectacular com que Deus e o Salão de Cabeleireiros Michel Jean-Jacques, Lda. o presentearam, vai beber porque o Parlamento Europeu é o Erasmus dos jotinhas".

É incrível que no meio desta rotina tenha conseguido escrever um relatório...

Gostem da minha página no Facebook para saber a resposta a alguns dos mistérios mais complexos da História, como por exemplo "Como é que é possível alguém levar o CDS a sério?" ou "Ouvi o Nuno Melo e pensei "olha que ele até tem uma certa razão". Devo consultar um médico? Isto tem cura?".

quarta-feira, 12 de março de 2014

Criando déspotas

- Sinceramente, acho que daria um excelente déspota esclarecido...

- E tirar fotocópias, consegue?

- Também.

- Então o part time é seu. Mas teremos em conta o seu nome quando abrir uma vaga para ditador megalómano...

- Não sei se estou qualificado para ditador megalómano. O despotismo esclarecido é mais a minha área. Tenho um mestrado e já liderei alguns golpes...

- Ah! É o que todos dizem mas o verdadeiro despotismo esclarecido só existe nos livros. Vá com calma. Tire as suas fotocópias, deixe crescer o bigode, defina um ideal utópico de sociedade e uma retórica populista que convença facilmente um povo desiludido e fracturado e, pelo caminho, elimine potenciais opositores que mais cedo ou mais tarde haverá uma revolução e vamos precisar de alguém para a liderar. Talvez o seu "despotismo esclarecido" se adapte à nossa forma de governo. Mas deixe crescer o bigode, esse buço não é suficiente para convencer os recrutadores numa entrevista de emprego. E não se esqueça da farda e de um acessório para a cabeça. A originalidade também conta e já é altura de os capacetes prussianos regressarem...

- OK! Obrigado pelos conselhos! Mais cedo ou mais tarde vou precisar de um lugar tenente...

- Seria uma honra! Mas a última pessoa que me disse isso, mandou-me para o exílio porque eu lhe "fazia sombra". A empresa só me voltou a chamar quando eu deixei de ser uma ameaça. Mas puseram-me a fazer entrevistas, longe do poder. Mal eles sabem que estou a aproveitar a oportunidade para ir manipulando jovens ambiciosos para aos poucos voltar a ganhar a influência que outrora tive... Bem, estão aqui os papéis, só preciso da sua assinatura e de uma fotocópia dos seus documentos pessoais. Bem-vindo à empresa e até segunda!

Ao gostarem da minha página no facebook dão um primeiro passo para se tornarem no Übermensch que precisamos para isto andar para a frente. Arriscam-se também a ganhar uma caneta e/ou um porta-chaves.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Comer arte

Assusta-me que com a proliferação de chefs e de competição gastronómica deixem de existir pessoas que apreciem genuinamente um bom prato. E que o melhor que se tenha a dizer do cozinhado alheio é um "Está muito bom!" carregado de ressentimento mal disfarçado pelo bom trabalho de um potencial rival na luta pela glória suprema no espinhoso Mundo da culinária. A culinária é levada tão a sério que muitas vezes fico sem saber o que fazer perante um prato... Provo-o ou tenho que lhe pedir desculpa primeiro? Ofereço-lhe um Prémio Nobel? Estendo-lhe uma passadeira vermelha no sistema digestivo? A ira do chef Gordon Ramsay perante uma vieira ligeiramente mal cozinhada consegue ser superior à ira de um cirurgião depois de um transplante de coração que correu mal! Alguém vai morrer à fome se tiver que esperar mais 5 minutos por uma vieira? Quando é que uma coisa que devíamos fazer para sobreviver se transformou nisto? Há poucos anos tínhamos sorte se sobrevivêssemos ao próximo Inverno e não existiam gordos. Havia um pequeno grupo que era o dos "mais fortes" (cujas características herdámos, embora possa não parecer) e o resto morria à fome. Com sorte, porque a alternativa era ser devorado por um tigre dentes de sabre (eu ia dizer Tyrannossaurus Rex, mas isto não precisa de ficar ainda mais estúpido). Hoje não nos contentamos em ser os maiores predadores, somos predadores cheios de mariquices. Não nos chega matar o animal, temos que o pôr a saber a uma coisa diferente e apresentá-lo com acompanhamentos com cores a combinar. Tudo isto organizado em forma de um desenho. Como se isso fosse importante. Somos tão evoluídos que já não comemos qualquer coisa, agora comemos obras de arte.

"Sai uma Mona Lisa para o senhor de bigode da mesa 8!"
"Este Picasso está mal temperado, posso provar um bocadinho do teu Andy Warhol?"
"Pode emoldurar os restos deste Renoir para eu levar para o meu cão?"

Isto é gozar com a Natureza e com uma necessidade tão básica como comer!

Sim, é pelo amor à comida que não cozinho nada de jeito.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O papel do homicida involuntário em histórias de amor ("There is a light that never goes out")




"And if a double-decker bus crashes into us
To die by your side is such a heavenly way to die."

Romântico, não? O problema é que ninguém se coloca na perspectiva do condutor do autocarro, que vai ter que viver atormentado pelos remorsos de ter destruído o futuro e as esperanças de um casal tão apaixonado. O que é que ele vai dizer à mulher e aos filhos?

- Hoje matei um casal. Um deles estava muito feliz, o outro nem por isso. Lembram-se quando eu era uma pessoa feliz e optimista? Foi ontem. A partir de hoje vou ser alcoólico e abusador. E também fã da Casa dos Segredos. Se é para entrar numa espiral destrutiva ao menos vou até ao fim.

É que dificilmente vai conseguir encontrar consolo no facto de um dos elementos do casal desejar tão ardentemente uma morte dramática e romântica. Porque, se calhar, ele não quer mesmo ser atropelado por um autocarro. Se num contexto romântico dizemos a alguém que lhe oferecemos o Sol, é porque sabemos que ninguém nos vai cobrar o Sol. Numa relação normal, ambas as pessoas sabem que o Sol queima e não fica muito bem na sala de estar.

(É um elemento que distrai muito e impossibilita totalmente que se veja televisão. Provavelmente teria que o guardar na dispensa. Se querem oferecer alguma coisa, ofereçam flores, candeeiros de lava ou outras merdas do género.)

Ser atropelado por um autocarro está nesta categoria de coisas que se dizem da boca para fora.

Hoje ia passando pela experiência de ser o catalisador do desfecho trágico de uma história do Nicholas Sparks, quando um jovem casal quase ficava debaixo do meu carro. Os pombinhos nem se aperceberam que quase risquei o "para sempre" da última página do seu conto de fadas. De tal maneira estavam trancados numa bolha de amor isolada do resto do Mundo, que na sua perspectiva não passa de um adereço tão irrelevante como um quadro do Menino da Lágrima, que se esqueceram da realidade. A diferença é que enquanto o Menino da Lágrima não sai do quadro para nos assassinar (dava um péssimo filme de terror, não mais do que isso), na realidade existem carros, cogumelos venenosos e fogões a gás. E é importante ter isto em conta, porque o amor não tem assim tanta piada se não estivermos vivos para o aproveitar. Acabei por não assumir o papel de cicuta naquele "Romeu e Julieta" dos tempos modernos. E ainda bem. Nem todas as relações precisam de acabar como a de Romeu e Julieta e prefiro que esta acabe por motivos mais comezinhos como mensagens difíceis de justificar no facebook ou a transformação de um deles em groupie do Tony Carreira. E não debaixo do meu Peugeot 206. Acabei de o arranjar e tudo!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Tive um acidente e fui parar ao site do Correio da Manhã


Li este comentário numa notícia do Correio da Manhã sobre o funeral de uma das vítimas da tragédia do Meco, onde fui parar por acidente (tropecei numa casca de banana, caí em cima do PC e ele abriu aquele site do nada):

"PARA A PRÓXIMA TENHAM MAS É MAIS JUÍZO E PRECAUÇÃO ANTES DE SE AVENTURAREM NO Q QUER Q SEJA:OLHEM Q A MORTE ANDA SP.À ESPREITA E NÃO BRINCA EM SERVIÇO;E NA MAIORIA DAS VEZES NEM DÁ TEMPO DE FUGA!É TUDO CÉLERE DEMAIS!"

Era o comentário mais votado, seja lá o que isso quer dizer em termos de democracia. Dizer que isto é o Cavaco dos comentários àquela notícia talvez seja uma descrição justa.

Esta ideia de aconselhar cautela a pessoas que estão dentro de um caixão só está ao alcance de alguém especial. Não sei se isto é mau gosto ou se é um caso extremo daqueles bons conselhos que vêm tarde demais. Se ao menos este cidadão preocupado e cauteloso estivesse lá naquela noite... É mau gosto. E estupidez, também.

Talvez isto se trate da inauguração de um novo grupo de carpideiras cuja função não é chorar em funerais mas fazer com que os mortos se sintam culpados pela sua própria morte. Conselhos inúteis que levam para o outro lado. Podemos debater a existência ou não de tal sítio, o que não podemos debater é que, mesmo que exista um outro lado, estes conselhos vão continuar a ser inúteis.

"Para a próxima não escrevas SMS enquanto conduzes"
 "Para a próxima evita entrar em edifícios que vão ser alvo de ataques terroristas"
"Para a próxima veste um casaquinho"
"Para a próxima não encaixes tão bem na vitimologia daquele perigoso serial killer"
 "Para a próxima come antes uma peça de fruta"

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Utilizar a cabeça para resolver os nossos problemas económicos e não só

Um dos problemas deste Governo é a falta de criatividade nas soluções para os nossos problemas. É só cortar, cortar, cortar... O que é estúpido quando há tanto que ainda pode ser feito.

(sim, a seguir vem uma ideia genial)

Como por exemplo, dar uma dedução no IRS a todos os cidadãos que aceitassem ser patrocinados por uma grande marca. A contrapartida seria esse cidadão ter que utilizar um boné com o logotipo do seu patrocinador em público durante x tempo ao longo do ano. Toda a gente ganhava com este modelo "treinador do Paços de Ferreira em flash interviews": ganhava a marca que por 50€ por cidadão aumentava a sua visibilidade e ganhava o cidadão que pagava menos impostos.

É uma ideia sem desvantagens! Se já fizeram tanta merda porque é que não hão-de vender as nossas cabeças como outdoors publicitários? Não faltariam clientes dispostos a recorrer a esta solução como a EDP, a Coca Cola, a Casa dos Segredos, o Professor Bambo, aqueles sítios que compram ouro por dinheiro ou serviços de acompanhantes de luxo (com anúncios codificados para que só os frequentadores deste tipo de serviços os consigam perceber mas feitos de uma forma tão incompetente que toda a gente chega lá: "Mais vale acompanhado luxuosamente que só. Acompanhantes + luxo (em termos relativo). Perceberam? P.S. Temos travestis.").

Os bonés poderiam ter sensores que detectassem a presença de pessoas nas imediações, quanto maior a exposição do cidadão a outras pessoas, maior o seu valor publicitário (logo maior o seu prémio). Podíamos chegar a um ponto em que diferentes marcas batalhavam pelo privilégio de utilizar a cabeça do Sr. Manuel para colocar um dos seus bonés.

Obrigar, ou melhor, incentivar as pessoas a andarem de chapéu seria também um nobre contributo do Governo e dos patrocinadores na luta contra o cancro de pele, que é um grande flagelo.

Escusado será também referir que o aumento do uso de boné levaria a um aumento exponencial da swag dos portugueses. Para isso, as marcas teriam que oferecer às pessoas bonés todos estilosos e não aqueles foleiros tipo panamá ou chapéus de cowboy com lantejoulas (a não ser que o produto a publicitar assim o exigisse, quem paga tem sempre a última palavra). Até devíamos agradecer!

(eu pagava 50€ só pelo gozo de ver um contribuinte qualquer a andar com um boné com uma fotografia do José Cid todo nu ou a incentivar as pessoas à leitura da obra de Gilles Lipovetsky)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Análise aprofundada ao vídeo de apresentação da candidatura do candidato do PTP à Câmara de Vila Nova de Gaia



Depois de analisar devidamente o famoso vídeo do candidato que se assume como a cara do mau trato aos idosos, concluo o seguinte:

- O Horácio é o gajo com mais cabeça no meio disto tudo. Está com cara de quem está a pensar no sabor amargo do fino que aceitou para participar nesta história;

- O Director de campanha tem de mostrar urgentemente ao seu candidato a definição da palavra especular no dicionário;

- Quando o candidato se refere aos "indíviduos que fazem do ser humano um palhaço" a quem é que ele se está a referir exactamente? Maquilhadores? Fabricantes de narizes vermelhos? Fica a dúvida...

- O amigo de confiança que está do lado esquerdo do candidato é o verdadeiro cérebro da campanha e está a manipular o candidato através de telepatia. O seu objectivo é derrubá-lo para, assim, ascender a cabeça de lista do PTP na candidatura à Câmara de Gaia. A única razão pela qual os restantes elementos da lista não compareceram tem a ver apenas com o facto de ele os ter sequestrado e enfiado na garagem para dar a imagem pública de que o outro é um líder fraco. Os génios do mal estão onde menos se espera;

- É difícil perceber se o líder do Partido faltou porque não tinha camisola ou porque está no tribunal. Deve ser um teaser para acompanhar o resto da campanha;

- Este vídeo vai tornar-se histórico no momento em que o "carequinha" se tornar no melhor primeiro-ministro da história de Portugal, infelizmente vamos ter que esperar mais 15 anos pela ascensão daquele que virá a ficar conhecido como "Chosen One" (numa altura em que apenas um puto de 15 anos será a única pessoa disponível para liderar Portugal). Vai continuar a aparecer em público ao colo do pai;

- Um dos motivos pelos quais o Horácio não está contente (mal sabia ele que isto ia tornar-se viral) é por lhe terem gastado um tinteiro a imprimir o cartaz que está colado na mesa;

- A filha do candidato está um bocado preocupada com a possibilidade de o pai fazer figuras tristes, mas no final do vídeo já está um bocado mais aliviada porque até acabou por correr bem... Pelo menos não bateu em ninguém...;

- Sabendo de antemão as audiências que iriam ter, todos os órgãos de comunicação social do país estavam ansiosos por cobrir o evento (a RTP já tinha destacado os pesos pesados Malato e José Rodrigues dos Santos para estarem presentes) mas o "amigo de confiança" mandou-os para o sítio errado, antecipando que o seu colega, por causa do orgulho iria, iria a partir daí, rejeitar qualquer contacto com a comunicação social ("Quem precisa da televisão? Há outras maneiras mais eficientes de chegar às pessoas!")... De uma maneira estranha, os acontecimentos subsequentes acabaram por lhe dar razão;

- É pena que este vídeo seja verdadeiro e não um teaser para uma comédia política, uma mistura de "The thick of it", "Homens do Presidente" e "Camilo & Filho".

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ideia empreendedora n.º 327

Depois da falência d'"A Vida é Bela" podiam criar uma nova marca um bocado mais realista chamada "A Vida às vezes é uma merda". Podiam continuar a vender vouchers mas com uma diferença, as pessoas não saberiam o que estava dentro da caixa.

A ideia era, de uma forma aleatória, oferecer experiências negativas (que nos tornam mais fortes e melhores seres humanos) e experiências positivas (que supostamente nos tornam pessoas mais felizes). Podíamos ter a sorte de nos calhar um jantar no melhor restaurante da região centro (o menu mais barato, feito à medida para quem traz vouchers) ou uma noite num hotel fantástico onde somos olhados de lado pelo gerente por saberem que a empresa de vouchers lhes vai ficar a dever o dinheiro que adiantámos ou ter o azar de ter que passar um dia a trabalhar numa lixeira, ser escarrado na cara por uma celebridade, ter que fazer um discurso sem roupa perante uma audiência de milhares de pessoas, passar um ano numa prisão do Botswana ou ser o porco num jogo real de Angry Birds (é curioso mas tenho muito mais ideias para experiências negativas do que positivas).

O filme "O Jogo" de David Fincher seria um filme quase tão mau como o filme que deu o nome aos vouchers se a personagem do Michael Douglas tivesse recebido um voucher d'"A Vida é Bela" (basicamente seria um filme em que acompanhávamos a ida de Michael Douglas a um spa). Mas um filme sobre alguém que recebe um voucher d'"A Vida às vezes é uma merda" até podia ser interessante. Fica a ideia para quem quiser pegar nela...

Quem fizer like na página deste blog recebe um caderno de vouchers do McDonald's. Quem não fizer like também é capaz de receber, esses cadernos de vouchers andam por todo o lado. Nunca utilizei nenhum...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Primeiro o Hitler fez o que fez, depois Judite de Sousa entrevistou Lorenzo Carvalho...

Pior do que a polémica à volta da entrevista de Judite de Sousa a Lorenzo Carvalho é o facto de eu ter visto uma entrevista do Lorenzo Carvalho.

Felizmente ainda consegui aprender alguma coisa com esta experiência. Percebi que não é obrigatório que todos os meninos ricos sejam betos. E já não é mau quando nos fazem questionar os nossos preconceitos...

Sempre achei que o ser beto era uma farda que distribuíam às pessoas que atingissem determinado estatuto económico. E que havia uma cerimónia em que alguém dizia algo do género: "Querido, agora pertences ao nosso exército. Pega lá esta farda da Gant e 90 euros para ires tratar desse cabelo". Mas afinal os ricos podem ser mesmo o que quiserem. Nunca pensei...

sábado, 17 de agosto de 2013

Ser um lavajão: A Arte De Comer Em Restaurantes Com Comida à Discrição

Comer num restaurante com comida à discrição é sempre uma batalha entre nós e o restaurante. Só um de nós vai ganhar e a intensidade da vitória ou derrota é medida pela diferença entre aquilo que pagamos e os custos do restaurante connosco. Quanto maior o lucro do restaurante, maior a nossa derrota, quanto maior o prejuízo, maior a nossa vitória. No fundo, trata-se de garantir que os gajos não se ficam a rir de nós.

Tendo em conta que muitos destes restaurantes ainda são negócios viáveis, eles estão-nos a ganhar esta guerra. Atenção que o nosso objectivo não é levá-los à falência, existirão sempre pessoas de fraco carácter a garantir as suas margens de lucro, o que queremos é ganhar o respeito deles de maneira a que, no dia em que lá voltamos, conseguirmos entrever na expressão dos empregados aquilo que eles pensam de nós: "Lá vem este animal outra vez". E isto vindo de quem já viu de tudo é o maior dos orgulhos e o desafio de uma vida. Deixo por isso algumas técnicas para aproveitar ao máximo a vossa experiência nestes estabelecimentos e garantir o respeito no Mundo dos farta brutos.


Técnica 1: Evitar intervalos, comer o mais rapidamente possível.

Quando estamos a ficar cheios o estômago envia sinais ao cérebro para o informar que é escusado continuar a emborcar, porque já está satisfeito. E quando chegamos a este ponto é mesmo difícil continuarmos a emborcar. Mas estar satisfeito não é ganhar a guerra (uma pessoa pode ficar satisfeita com uma saladinha)! O nosso objectivo deve ser comer o nosso próprio peso em comida. E se queremos chegar a este ponto temos que derrotar o nosso sistema nervoso. Temos de enganar o cérebro e comer o mais rapidamente possível, para quando lhe chegar a informação do nosso estômago este já estar próximo do rebentamento. Assim já podemos desapertar o cinto com o sentimento do dever cumprido.

Nada de intervalos de 10 minutos entre cada prato, não estamos lá para passar tempo. Nada de saborear, não estamos lá para desfrutar de boa comida. O nosso objectivo é claro e não nos podemos desviar nem um milímetro. Se a padeira de Aljubarrota tivesse parado para apreciar cada uma das pazadas que mandou aos espanhóis a esta hora estava a escrever isto em castelhano.


Técnica 2: Gestão dos líquidos.

As bebidas são um bem essencial, pois são o lubrificante que nos permite empurrar o máximo de comida para dentro de nós. Podemos fazer tudo bem e cumprir todas as regras para a vitória, mas uma falha de hidratação pode ser a morte do artista. Tentar fazer passar tanta comida por uma traqueia seca é como querer andar de Ferrari no deserto. Não funciona.

E os restaurante percebem isto e usam a nossa necessidade de líquidos contra nós: inflacionam o preço das bebidas (estou convencido que é aí que vão buscar o lucro) e enchem a comida de sal (uma vez num restaurante brasileiro comi 300 g de sal com um bocado de picanha).

Como contornar este obstáculo?

Pedir só uma bebida: Se pedirmos uma segunda bebida, perdemos a batalha. A casa fica com lucro garantido e nada do que comamos a seguir compensará este acréscimo nos nossos custos com aquela refeição.

Gerir a bebida: Beber apenas pequenos goles em pontos chave da refeição e nada de bebidas naturais! Com a secura que vamos sentir, é mais fácil manter o controlo se pedirmos bebidas frescas.

Recorrer à água da torneira da casa de banho: A maior parte dos restaurantes ainda têm casa de banho e não cobram nada pela água utilizada. É uma fonte de hidratação teoricamente infinita e que muitas vezes é ignorada. Recomendo no entanto que esta técnica seja utilizada apenas em último recurso. A imagem de alguém a beber água directamente da torneira da casa de banho de um restaurante é deprimente. Além disso, pode ser considerado jogo sujo, o que tira algum brilho à nossa vitória. Mas uma guerra nunca é limpa e nem sempre nos orgulhamos de tudo o que fazemos em função do objectivo maior, que é a vitória, sempre. Para quem tem pruridos morais, pode sempre encarar o recurso à água da torneira da casa de banho como uma resposta justa ao excesso de sal que eles colocam na comida. Se o inimigo usa uma bomba atómica, nós usamos uma bomba atómica.



Técnica 3: Companhia

A arte de comer à discrição em restaurantes é um jogo para lobos solitários. Mas acontece muitas vezes irmos a restaurantes acompanhados. E se formos acompanhados o restaurante vai olhar para nós como uma equipa, mesmo que se peça a conta em separado. Ou seja, se nós nos esforçarmos e conseguirmos dar prejuízo à casa mas a nossa companhia comer menos que um pisco, o restaurante vai fazer um balanço da média daquilo que ganhou na nossa mesa, o que pode levar a que estejamos injustamente associados a um resultado medíocre. Numa "equipa" a média é que conta, não a performance individual. Ou seja, se vamos acompanhados, devemos ir acompanhados por alguém que seja tão ou mais glutão do que nós.

(Julgo que é desnecessário apontar para um facto evidente: não levem mulheres a estes restaurantes! Não só elas, regra geral, comem pouco (os empregados destes restaurantes esfregam as mãos quando vêm uma mulher a entrar) como se têm algum interesse romântico pode não ser boa ideia mostrar-lhes o nível de badalhoquice que vocês provocam quando vos disponibilizam comida à discrição. Talvez num ponto mais avançado da relação (e bastante depois de utilizarem a casa-de-banho com a porta aberta). Levem-nas a restaurantes franceses ou assim. Se vão comer a sério, deixem as mulheres em casa).


Técnica 4: Hidratos de carbono

Nestes sítios tentam sempre encher-nos de hidratos de carbono. É uma forma barata de nos deixarem enfartados. Por muita fome que tenham, tentem comer o menos possível de arroz, batatas fritas ou feijão. Guardem-se para a chicha. E guardem-se também para o fim. Em restaurantes brasileiros eles tentam começar por nos encher com iguarias menores tipo salsichas e coxas de frango para não termos fome quando chega o El Dorado que é a maminha e a picanha. Não se deixem apoquentar perante os mind games dos empregados quando vocês rejeitam uma salsicha. 

"Não quer mais? Já está cheio, é?"

Quem ri por último é quem ri melhor e não imaginam a sensação fantástica de contemplar todo o gozo a desaparecer daquelas caras quando vos vêem a comer picanha. É essa a beleza deste jogo! A humilhação do adversário.

Técnica 5: Jejum

Esta é demasiado óbvia mas não podia deixá-la de fora deste guia. Enfardar comida é um desporto que não precisa de aquecimento. Tentem não comer nada nas 12 horas que antecedem a vossa ida a um restaurante destes, só assim se vão conseguir transformar num buraco negro capaz de sugar toda a comida que está num raio de 3 metros. E assim, garanto-vos, podem ganhar a guerra.