Sabes aquela imagem clássica do anjinho e do diabinho que aparecem nos momentos mais difíceis das pessoas para as ajudar a escolher o melhor caminho a seguir? Em que o anjinho sugere um caminho abençoado pelo bem e em que o diabinho sugere um caminho perverso e a pessoa fica ali indecisa a pesar os prós e os contras e a decidir qual das duas opções é mais vantajosa.
Não acho esta metáfora credível como representação dos diferentes processos de decisão que temos que enfrentar nas nossas vidas. É muito redutora. Representa uma escolha entre o preto e o branco num Mundo cheio de cinzentos. É a imagem do maniqueísmo que nos leva a colocar rótulos em tudo, sem conhecer as diversas perspectivas e diferentes pontos de vista. Esta dicotomia anjinho/diabinho é a razão pela qual é impossível ter uma conversa racional neste Mundo!
O que eu gostava mesmo era que andássemos sempre acompanhados pelo público do Preço Certo. Sempre que tivéssemos que tomar uma decisão difícil como "o que vamos comer logo à noite?", "devo convidar a rapariga que gosto para sair embora ela seja casada com o meu irmão?", "devemos matar a nossa mulher e o respectivo amante que acabámos de apanhar em flagrante e, se sim, como o vamos fazer?", as diversas pessoas da plateia gritariam a sua opinião, permitindo-nos tomar a decisão correcta. No meio daquela cacofonia está, algures, a verdade. A vida é, no fundo, uma montra final.
Imaginemos a seguinte situação:
A tua mulher está gravemente doente. Para se salvar precisa urgentemente de determinado medicamento. Só que há um problema: tu és pobre e não tens dinheiro para o comprar. A única solução é assaltar a farmácia. O que é que fazes? Assaltas a farmácia visto que é essa a única maneira de salvares a tua amada? Ou não enveredas por essa opção criminosa, colocando assim a vida da tua mulher em perigo?
O que é que o anjinho e o diabinho diriam disto? Ficariam com um nó na cabeça, não? Qual das duas decisões execráveis agradaria mais ao diabinho? Matar a tua mulher ou levar-te a cometer um crime? Mas se esta questão fosse colocada à plateia do Preço Certo terias toda uma série de respostas que te levariam a pensar nas implicações morais das diferentes opções e agir da maneira mais fundamentada e correcta possível.
E perante este dilema seríamos confrontados com vários tipos de respostas:
"Não assaltes a farmácia porque corres o risco de ir preso"
"Assalta a farmácia! És demasiado incompetente para ficares a tomar conta dos teus filhos sozinho!"
"A vida humana é um valor universal que não deve ser posto em risco de maneira nenhuma. Assalta a farmácia! É o melhor que podes fazer!"
"Diz à tua mulher que vais assaltar a farmácia, simula a tua morte e foge para as Bahamas. Assim, ela pode comprar os medicamentos com o dinheiro do seguro de vida e tu ganhas uma vida muito melhor."
"És feio e cheiras a Tulicreme fora do prazo!"
"Não assaltes a farmácia. Aceitar que há um motivo para fazer algo do género é abalar os alicerces da nossa sociedade e pôr em perigo tudo aquilo em que acreditamos: a propriedade privada"
"O último gajo que falou é um fascista! Não lhe ligues! Assalta a farmácia e mata o farmacêutico. Já que vais cometer um crime ao menos ficas de barriga cheia!"
"Vai mas é trabalhar, malandro!"
"Veste-te de Chewbacca, invade a Assembleia da Republica e ameaça que, se não te derem os medicamentos, rebentas com aquilo tudo!"
"Ó meu senhor, mas porquê vestido de Chewbacca?"
"Então não se vê? Por uma questão de credibilidade..."
E aqui aparecia o Fernando Mendes a dizer que já tinha passado muito tempo e que tínhamos que fazer a nossa opção final. E faríamos! Só que bastante mais informados...
E é isto... A sabedoria da plateia do Preço Certo é tudo o que precisamos para fazer o que está correcto.
(Reedição de texto antigo que tive que apaguei mas que faço questão de que continue aqui)
(Reedição de texto antigo que tive que apaguei mas que faço questão de que continue aqui)
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